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segunda-feira, 9 de março de 2009

Resumo Pedagogia do Oprimido Capítulo I

Os problemas atuais colocam “o ser humano” no centro da reflexão. O homem que pouco sabe de si e de seu lugar no cosmo, se pergunta sobre si mesmo e sobre sua humanização.
Percebe-se que há uma grande desumanização, tanto como “viabilidade ontológica como realidade histórica”. E a partir desta dolorosa constatação, os homens se perguntam sobre outra viabilidade – a de sua humanização.
A desumanização, embora seja um fato concreto na história, não é destino dado, mas é resultado de uma “ordem” injusta que é gera a violência dos opressores e esta, o “Ser Menos”.
O “Ser Menos” não é vocação humana, mas distorção do “Ser Mais”.
Por isto que a violência jamais fora deflagrada pelos oprimidos, mas pelos opressores ao roubar a humanidade dos oprimidos. Os oprimidos são pessoas roubadas da palavra, do sangue e de sua força produtiva.
Porém, os opressores, na hipocrisia de sua “generosidade”, dizem que são sempre os oprimidos – ‘essa gente’, ‘essa massa cega e invejosa’ – que inauguram o desamor, a violência, etc.
A desumanização se percebe tanto nos que tem a sua humanidade roubada como naqueles que a roubam.

Visão de Posse dos Opressores

Os opressores possuem uma consciência fortemente possessiva, possessiva do mundo e dos homens. Fora da posse, os opressores não conseguem entender a si mesmos.
Por isto, eles tendem a transformar tudo em objeto de seu domínio – a seu poder de compra. O dinheiro é a medida de todas as coisas e o lucro seu objetivo principal (Freire: 49).
SER para eles é TER e TER MAIS, à custa do TER MENOS (Ter nada) dos oprimidos. Assim, eles se afogam na posse e já não são.

Visão dos opressores da Libertação

Os opressores não se sentiram libertos na libertação dos oprimidos. Para eles, tudo o que não seja o seu direito de oprimir, significa opressão.
E, por temerem perder suas posses, veem a humanização e a liberdade dos oprimidos como subversão.
Para o opressor não interessa a inserção crítica, mas a impotência diante da realidade ‘situação-limite’ . Daí a necessidade constante de controle, quanto mais controlam os oprimidos, mais os transformam em coisas, em objeto inanimado.
Na visão opressora, há apenas o direito de viverem em paz. Os outros direitos humanos como a Saúde, a alimentação , etc. são apenas atos assistencialistas e não Direito.
Para os opressores, pessoa humana são apenas eles. Os outros são “coisas”.

Autodesvalia dos oprimidos

Os oprimidos de tanto ouvirem que são incapazes, inúteis se sentem assim. Eles possuem um forte sentimento de “baixo estima”.
Uma das primeiras alterações no processo de libertação é a alteração neste sentimento.
Outra característica é a crença na invulnerabilidade do opressor, fato este, que impede a luta dos oprimidos. Eles acreditam na força mágica do PODER do SENHOR.
É preciso que se comece a ver exemplos da vulnerabilidade do opressor . – enquanto isto não ocorre, continuam esmagados e aceitam o fatalismo da opressão. Eles possuem atitudes fatalistas em face da opressão o que dá a impressão de “docilidade”.
E apresentam uma visão distorcida de Deus, acreditando ser Deus o responsável por seu sofrimento – “Se isto é a vontade de Deus, o que fazer?”; “Deus tem tudo traçado, isto que está acontecendo comigo é por castigo ou para ensinar algo que eu não percebia antes”.

Dependência Emocional:

Para os oprimidos ser nem sequer é ainda parecer com o opressor, mas é estar sob ele. É depender. Por isto que, eles são dependentes emocionais.
Eles possuem uma “aderência” ao opressor, não chegam a “admirá-los” o que o s levaria a objetivá-los, a descobrir fora de si.
Os oprimidos precisam reconhecer-se Seres Humanos, na sua vocação ontológica e histórica de SER MAIS.
A ação política tem que ser AÇÃO CULTURAL.

Hospedagem do Opressor

Os oprimidos “hospedam” o opressor dentro de si. Por isto, eles participam da elaboração da Pedagogia da Libertação como seres duais, inautênticos. Somente na medida em que descobrem “hospedeiros” do opressor é que poderão contribuir para o partejamento de sua pedagogia libertado.
“Enquanto vivam a dualidade: ser é parecer e parecer é parecer com o opressor, é impossível fazê-lo”.
Os oprimidos ao invés de buscar a sua libertação e lutar por ela, tendem a serem opressores também ou sub-opressores. A sua visão do oprimido de homem novo é individualista, é ser opressor. Assim, a revolução que fazem é algo privado e não social.
A estrutura de seu pensar se encontra condicionada pela condição estrutural em que são “formados”. O seu ideal de ser humano é parecer com o Opressor, esta é a sua forma de superação e transcendência. Por isto, eles sentem uma enorme atração pelo opressor, principalmente os de classe média.

Imersão dos Oprimidos

O conhecimento dos oprimidos se encontra prejudicado pela imersão que se encontra na realidade opressora.
Na imersão: Não conseguem perceber a ordem em que estão. Esta que muitas vezes, os leva a exercer um tipo de violência contra seus próprios companheiros.

A realidade opressora, ao constituir-se como um quase mecanismo de absorção dos que nela se encontram, funciona como uma força de imersão das consciências.” (Freire:40).

Neste sentido é domesticado. Libertar-se “exige a emersão dela, à volta sobre ela”.
Porém, reconhecer-se oprimido não significa lutar contra a opressão.
Um dos pólos da contradição pretendendo não a libertação, mas a identificação com o seu contrário.” (Freire: 42).

Prescrição

* A mediação opressores-oprimidos é a prescrição (Toda prescrição é a imposição da opção de uma consciência a outra).
A consciência opressora transforma a consciência oprimida em ‘recebedora’, ‘hospedeira’. “Por isto, o comportamento dos oprimidos é um comportamento prescrito. Faz-se à base das pautas estranhas a eles – as pautas dos opressores” (Freire: 35).

Os oprimidos, que introjetam a ‘sombra’ dos opressores e seguem suas pautas, temem a liberdade, na medida em que esta, implicando na expulsão desta sombra , exigiria deles que ‘preenchessem’ o ‘vazio’ deixado pela expulsão, com outro ‘conteúdo’ – o de sua autonomia, o de sua responsabilidade, sem o que não seriam livres” (35)

Os oprimidos temem a liberdade na medida em que não se sentem capazes de correr o risco de assumi-la.
E a temem na medida em que lutar por ela é um risco não só aos que oprimem, mas aos seus companheiros, que se assustam com maior repressão.
Enquanto temem a liberdade se negam a apelar a outros e a ouvir o apelo destes, preferindo a gregarização à convivência autêntica.
O anseio de liberdade somente se faz na concretude de outros anseios. “Ninguém se liberta sozinho, também não é libertação de uns feita por outros.” (Freire: 58)
Ninguém tem liberdade, por isso, se faz necessária a luta permanente por ela.

Dualidade

Os oprimidos descobrem que não sendo livres, não chegam a ser autenticamente, mas temem ser.
No processo de libertação, sofrem uma dualidade que se instala na interioridade de seu ser, onde questionam sobre:

 Expulsar ou não os opressores dentro de si;
 Desalienarem ou manter alienados;
 Seguirem prescrição ou terem opções;
 Serem espectadores ou atores;
 Dizer palavras ou não ter voz.

Estes dilemas dos oprimidos que a Pedagogia tem que enfrentar.

A luta dos Oprimidos

A violência dos opressores faz com que cedo ou tarde, os oprimidos lutem contra quem os fez “Ser Menos”.
Esta luta somente tem sentido na medida em que os oprimidos busquem recuperar a sua humanidade e de seus opressores. E não procurem serem opressores de seus opressores.
Aqui está a grande tarefa dos oprimidos: Libertar-se a si e os que os oprimem.
Os opressores oprimem pela força de seu poder e este poder não pode libertar. Só o poder que nasça da Debilidade dos Oprimidos será suficiente forte para libertar ambos” (Freire: 31).
Por mais paradoxal que seja: na resposta dos oprimidos à violência dos opressores é que vamos encontrar o Gesto de Amor.
Pois sua resposta parte do anseio de busca do direito de ser. E ao retirar o poder de oprimir, os oprimidos restauram a humanidade deles e dos opressores.
Por isto, os oprimidos não podem se tornar novos opressores, a restauração tem que por freios no desejo de oprimir dos opressores.
Libertação é um parto, e um parto doloroso! “Parto de um homem novo que só é viável na e pela superação da contradição opresssores-oprimidos, que é a libertação de todos.” “O homem novo não é oprimido nem libertado, mas homem se libertando” (Freire: 36).

Generosidade dos Opressores

Os opressores apresentam uma falsa ‘generosidade’, como jamais a ultrapassa. Eles tem necessidade desta generosidade para continuar oprimido.
A Verdadeira Generosidade está em lutar para que desapareçam as razões que alimentam o falso amor. E fazer com que as mãos tremulas e suplicantes se tornem mãos transformadoras do Mundo.
Solidariedade não é reconhecer que oprime e ter atitudes paternalistas, mas assumir a atitude de quem solidarizou, ou seja, ser radical. E com eles luar para transformação da realidade.

Quando os representantes do pólo opressor vão para o pólo oprimido

Eles têm uma grande importância no processo de Libertação, e sempre tiveram na história da humanidade. Porém, eles levam consigo os preconceitos e a desconfiança de que o Povo seja capaz de pensar e agir certo.
Eles acreditam que são eles que devem ser os fazedores da Transformação, os proprietários do FAZER REVOLUCIONÁRIO. Com isto, eles mantêm o sistema como era antes.
Crer no povo é a condição prévia, indispensável à mudança revolucionaria.
Por isto, é necessário que eles se revejam constantemente que renasçam numa forma nova de estar sendo.
É preciso dialogar com eles e não fazer propaganda. Não é doação, mas conscientização – se for doado não é autentico.
Quanto mais as massas desvelam a realidade objetiva e desafiadora (não-eu) mais inserem nela criticamente.
Assim, o trabalho do educador deve ser segundo Lukács: “Explicação às massas de sua própria ação” para “ativar conscientemente o desenvolvimento ulterior da experiência”. Para Freire: Ao invés de explicar, deve dialogar.

Pedagogia com os Oprimidos e não para eles

Os oprimidos devem ser considerados como portadores de uma nova percepção, diferente desta realidade opressora.
Estes ensinamentos e esta aprendizagem tem que partir dos esfarrapados do mundo e dos que com eles realmente se solidarizam. Quem melhor que eles que conhece os efeitos da opressão?
A libertação não acontece por acaso, mas em um processo de práxis, de busca; pelo reconhecimento da necessidade de lutar por ela.
Pedagogia do Oprimido tem que ser forjada com ele e não para ele.
A Pedagogia faz da Opressão e de suas causas Objeto da Reflexão.

Objetividade e Subjetividade

A situação de opressão somente pode ser mudada ‘objetivamente’ o que não nega o caráter subjetivo da luta pela modificação estrutural.
Não pode pensar em objetividade sem subjetividade. Não há uma sem a outra, que não pode ser dicotomizadas.” (Freire: 38)



Nem subjetivismo ou psicologismo nem objetivismo. O primeiro apresenta concepções solipsistas, nega a ação mesma por negar a realidade concreta (criação da consciência), para ele há homens sem mundo. O segundo ao apresentar a negação da analise da realidade ou na ação desta, fala de um mundo sem homens.
Realidade social, objetiva, que não existe por acaso, mas como produto da ação dos homens, também não se transforma por acaso.
Os homens transformam o mundo. Este, na invasão da Práxis, condiciona os homens.
Raízes da Pedagogia da Libertação: Nenhuma realidade pode transformar a si mesmo.

O reconhecimento de caráter puramente subjetivista que é antes o resultado da arbitrariedade do subjetivista o qual, fugindo da realidade objetiva, cria uma falsa realidade ‘em si mesmo’. E não é possível transformar a realidade concreta na realidade imaginária” (Freire: 41)

Isto ocorre quando fere os interesses de classe também. “Não negam o fato, mas distorcem suas verdades, a ‘racionalização’, ‘retira as base objetivas do mundo’.” O Fato deixa de ser concreto para virar mito de defesa do sistema.

Como realizar a Pedagogia da Libertação, se esta implica poder político e os oprimidos ainda não tem? Como realizar a pedagogia antes da revolução?

Distinção entre trabalhos educativos, que devem ser realizados com os oprimidos, no processo de sua organização e educação sistemática, que só pode ser mudada com o poder.
A Pedagogia do oprimido terá dois momentos distintos:
Primeiro – Os oprimidos vão desnudando o mundo da opressão e vão se comprometendo na PRAXIS .
Segundo – Transformada esta realidade, a Pedagogia deixa de ser dos oprimidos e passa a ser dos Homens em processo permanente de libertação.
Em ambos os momentos, ela enfrentará, culturalmente a CULTURA da DOMINAÇÂO.
No primeiro momento haverá a mudança de percepção e no segundo momento a expulsão dos Mitos criados e desenvolvidos, que preservaram como espectros míticos.
A reconstrução dos oprimidos não pode ser ‘à posteriori’. Ela começa no auto-reconhecimento de homens destruídos.

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