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sábado, 15 de agosto de 2009

Educação e Diversidade Cultural

O fim do segundo milênio e início do terceiro é marcado, especialmente na América Latina, pela ascensão de governos “progressistas” ou que ao menos fogem dos estereótipos das grandes oligarquias que governaram nos últimos 500 anos, são eles: Kirchner (Argentina), Bachelet (Chile), Morales (Bolívia), Correa (Equador), Lugo (Paraguai), Chávez (Venezuela), Lula (Brasil).
Paralelamente, vemos o florescimento e atuação de um grande número de movimentos sociais e ONGs que reivindicam os mais diversificados direitos sociais e melhorias na vida da humanidade e do Planeta, desde a luta por um pedaço de terra para cultivar e por um teto para se abrigar, passado pela preservação do meio ambiente e dos animais, aos direitos e fim do preconceito contra os homossexuais, negros, índios, deficientes, mulheres.
Os FSMs (Fórum Social Mundial) e outros fóruns sociais regionais ou temáticos, que estão acontecendo em todos os cantos do globo, apresentam uma infinidade de propostas e idéias que são discutidas, entrelaçadas, criando redes de ações coletivas que lutam para a concretização de um mundo melhor e mais humano. Enfatizamos as articulações realizadas por movimentos sociais (MST e Via Campesina) e os governos Chavez, Correa, Lugo, Morales para a criação da ALBA (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América – Tratado de Comércio dos Povos) que contrapõe a falida e frustrada ALCA (Área de Livre Comércio das Américas).
Estes fatos desmascaram um dos pontos mais perversos da Ideologia Neoliberal, que diz não haver alternativas fora deste sistema, mostrando exatamente o contrário: está cheio de alternativas, elas estão eclodindo e paulatinamente criando uma consciência altermundista.
O sistema capitalista neoliberal, obviamente, ainda, rege a maioria das políticas econômicas e bélicas dos Países. E nas mãos dos capitalistas concentram a maior parte dos meios de comunicação e de produção. Porém, as contradições internas do sistema estão o levando ao colapso. O que não significa que ele vai acabar por si só, pois a tendência conservadora é, em momento de crise, aumentar a acumulação e a repressão social.
Mas, segundo o Relatório “Planeta Vivo 2006” do WWF, nós estamos consumindo recursos naturais em um ritmo superior à reposição pela biosfera terrestre, o consumo supera a capacidade de regeneração do planeta em cerca de 25%. Estamos deteriorando os ecossistemas naturais a um ritmo nunca visto na história da humanidade, quase um terço das espécies conhecidas se extinguiu em três décadas . O número de pessoas que passam fome no mundo aumentou em 2008 para 963 milhões, contra 832 milhões registrados em 2007.
Então, até quando o sistema suportará tamanha contradição? Até quando os pobres que estão morrendo de fome ou de doenças de fácil tratamento ficarão calados, esperando a morte chegar, diante de o desperdício alimentar dos ricos ? Até quando a “Mãe Gaia” agüentará ser destruída e poluída pelas empresas capitalistas?
Leonardo Boff nos faz uma advertência a este respeito:
Precisamos de um novo paradigma de civilização porque o atual chegou ao seu fim e exauriu suas possibilidades. Temos que chegar a um consenso sobre novos valores. Em 30 ou 40 anos a Terra poderá existir sem nós. A busca de um novo paradigma civilizatório é condição de nossa sobrevivência como espécie. Assim como está não dá para continuar. Na última página de seu livro ‘A era dos extremos’ diz enfaticamente Eric Hobsbawn: Nosso mundo corre o risco de explosão e de implosão. Tem de mudar!.

A necessidade de mudança parece ser obvia. Mas como mudar? Quais os paradigmas de que precisamos? Quais os caminhos que devemos percorrer? Quais os erros do passado que não devemos cometer?
A resposta a estas perguntas está no próprio movimento histórico que descremos no início deste projeto, ou seja, a mudança ocorrerá e está ocorrendo nas e através das organizações da sociedade civil, sejam nos movimentos sociais e nas ONGs ou numa participação democrática efetiva como o OP (Orçamento Participativo).
Estas revelam: a busca ontológica do Ser Humano em “Ser Mais”; o seu desejo de resistir contra as mazelas da opressão neoliberal; e principalmente, que a esperança está viva, nas palavras de Paulo Freire: “O povo grita contra os testemunhos de desfaçatez, As praças públicas de novo se enchem. Há uma esperança, não importa que nem sempre audaz, nas esquinas das ruas, no corpo de cada uma e de cada um de nós. E como se a maioria da nação fosse tomada por incontida necessidade de vomitar em face de tamanha desvergonha” (FREIRE, 1992: 10).
Estas novas organizações da sociedade civil, em sua maioria, se caracterizam pela efetiva participação popular nas decisões internas e externas do movimento, liberdade de atuação aos membros, poder descentralizado e/ou pouca distância entre a base e a direção (SCHERER-WARREN,1996: 65-68).
O Diálogo, assim como na Ágora da Polis Grega, mas com a participação de todos – em especial àqueles que foram privados do direito de dizer a palavra – se torna o caminho pelo qual as decisões são tomadas e no choque dialético de idéias, abre-se novos horizontes de percepção, o ser humano transcende a situação limite vislumbrando o inédito viável, e a partir de sua realidade e problemática particular atinge uma visão de todo (FREIRE, 1970: 114). Na luta pelos direitos humanos e do Globo, homens e mulheres ganham significação e se descobrem como seres inconclusos, inclusos, capazes de criar e recriar a sua própria história.
Precisamos, pois, de uma educação que tenha como foco maior a Práxis (ação + reflexão da ação) Democrática, ela deverá possibilitar ao ser humano ser protagonista de sua história como condição da transformação social. Para tal, é condição sine qua non que ela própria seja democrática em todas as suas dimensões.

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