Pesquisar neste blog

Análise Complexa sobre a Conjuntura


Acerca da Felicidade: o tudo e o nada

Como posso ser feliz?
Se não me identifico
pelo que sou,
mas pelo que tenho?

E se nada tenho,
vivo buscando ter,
e esqueço-me de ser.

E o que tenho,
é como nada ter,
pois nada sou,
pelo que tenho.

Nada! não quero ser,
então, preciso ter,
que tudo é,
para quem nada é.

O nada vira tudo
e o tudo é o nada,
que me cega para o tudo
e só me faz ver o nada.

Minha vida é um nada,
que torna isso tudo
insuportável.

Jogo-me no eterno nada?
Ou busco outro nada,
acreditando ser ele
o tudo?

Como acordar para o tudo?
E esquecer o nada?
Se sou um nada?
Que quer tudo?

Nada!
Tudo!
Tudo!
Nada!

Torno para sempre
um nada?
Ou supero
isso tudo?

Como posso
não querer nada,
desse tudo?

E buscar o tudo,
se só vejo
o nada?
Talvez, o tudo,
esteja onde,
eu acreditava
ser o nada.

Então,
serei tudo e
não precisarei
de nada.

(Wilson Horvath)

Este texto serve como pano de fundo ao seguinte, em que apresentaremos propostas de Ética e Política de Civilização. Nele, faremos uma discussão da conjuntura complexa, ou seja, procuraremos tecer os vários fios antropossociais e político-econômicos, que compõem a sociedade ocidental, nas duas primeiras décadas do terceiro milênio à luz do Pensamento Complexo. Nosso objetivo é entender os mecanismos de funcionamento da dialogia existente entre o sujeito, a cultura moderna e a sociedade. Procuraremos, ainda, discutir os porquês de Edgar Morin apresentar as propostas de Ética e Política de Civilização. Quais são os paradigmas com os quais ele está dialogando e enfrentando? Em que contexto mundial surgem tais propostas?
A estrutura dialógica existente entre os sujeitos e a sociedade contemporânea estabelece um círculo vicioso entre produção e consumo. Esse círculo é responsável por problemas que estão pondo a humanidade e parte das formas de vida no planeta em risco de extinção. A estrutura dialógica segue a reflexão apresentada na epígrafe deste capítulo, a humanidade se lança em uma busca frenética e insaciável pelo Ter, sem considerar ou relativizar as consequências dessa ação.
A dialogia estabelecida não é determinista, nem natural; ao contrário, é passível de ser rompida, pois ela é contextual. E há o princípio de desordem que caminha paralelamente ao de ordem. Mas, mesmo sendo contextual, não é fácil ser rompida, pois, embora não seja determinista, ela é condicionante.
A maneira como a humanidade está vivendo é fruto de um jogo de ideias, que compõem a sua forma atual de organização e a projeta para o futuro. Nosso objetivo, aqui, é entender como essa estrutura dialógica age tanto na mentalidade do sujeito como na sociedade. Segundo Morin: “O Método trata da vida, do espírito, das ideologias, do imaginário, da luta entre escolas diferentes de pensamento e da necessidade de tolerância. Precisamos aprender a contextualizar e a globalizar os conhecimentos" (2008, p. 09).
Pretendemos fazer essa contextualização a fim de, no próximo capítulo, buscarmos as brechas para a construção de uma nova cultura e de um novo ser humano, ou seja, uma cultura de Terra-Pátria e um ser humano que se sente membro, filho dela e trabalhe em prol de Terra-Pátria. Mas para tal, precisamos conhecer as determinações que impõem o atual modelo. Segundo Morin: “há multiplicação das brechas e rupturas no interior das determinações culturais, possibilidade de ligar a reflexão com o confronto, possibilidade de expressão de uma idéia, mesmo desviante” (Ibidem, p. 23).
Este texto traz as seguintes reflexões: Preâmbulo, em que apresentamos os atuais problemas; Noosfera, o mundo das coisas do espírito e como age na constituição do ser humano; Noosfera moderna e o fetiche de Eros trazem uma reflexão sobre algumas ideias presentes na cultura contemporânea, bem como o fetiche da força vital; a crise da esperança – o fim do socialismo expõe a desesperança gerada depois do fim do socialismo; pensamento moderno, o complexo do Rei Midas, expõe a utopia do pensamento moderno, suas ilusões e consequências; o destronamento do deus-moral judaico-cristão explicita a multiplicidade de ideias-forças, surgidas com o advento do pensamento moderno; fragmentação do saber expõe as causas da fragmentação do conhecimento e suas consequências para o pensamento ético; “onde cresce o perigo, cresce também o que salva” procura uma saída para o fetiche de Eros a partir de sua própria estrutura dialógica entre Thánatos e Eros, lançando as bases para a construção dos conceitos de Política de Civilização e Ética.
1 Preâmbulo
O primeiro tocou a trombeta: granizo e fogo, em mistura com sangue, caíram sobre a terra; a terça parte da terra ardeu, um terço das árvores ardeu e toda erva verde ardeu. (BÍBLIA, 1995, p. 1522).
Edgar Morin, ao analisar a conjuntura atual, afirma que nós estamos vivendo um momento decisivo da história da humanidade, que é, segundo o filósofo: “última oportunidade ou desgraça última para a humanidade” (1997, p. 117). A chamada do autor nos convida a refletir sobre os atuais problemas que assolam a humanidade, neste início do terceiro milênio. Os problemas são de ordem global, ou seja, eles não são oriundos de um local particular e isolado, mas brotam de todos os cantos do planeta[1], e suas consequências atingem toda a humanidade, sem exceção, incluindo não só os que são responsáveis diretos por eles, mas também os que não são culpabilizados. Destacamos, a seguir, alguns desses problemas, que ameaçam a continuidade da vida humana.
A utilização da energia nuclear revela a sua periculosidade, na ação bélica, como o ocorrido nos bombardeios das cidades de Hiroshima e Nagasaki, em 1945; nas ameaças de que países como Coréia do Norte, Índia, Irã, Paquistão repitam a barbárie da Segunda Guerra Mundial; no perigo de que grupos extremistas e terroristas tenham acesso a esse tipo de armamento. E, além da ameaça da utilização militar dessa energia, ela também se mostra perigosa nos acidentes ocorridos em usinas de energia nuclear, tais como o de Chernobyl, em 1986, e o de Fukushima, em 2011, entre outros. Esses acidentes nos revelam que não há formas seguras na utilização desse tipo de energia.
Encontramos também problemas oriundos de outras formas de geração de energia. O petróleo, além de ser um dos grandes responsáveis pelas atuais guerras, também apresenta acidentes de grande impacto ambiental. Destacamos o naufrágio do superpetroleiro Exxon Valdez, em 1989, que liberou cerca de 41 milhões de litros de petróleo no oceano. E o vazamento de petróleo, por mais de três meses, ocorrido após a explosão de uma plataforma norte-americana, que estava sob concessão da empresa petroleira British Petróleo (BP), no Golfo do México, em 2010. Esse acidente superou o ocorrido com o Exxon Valdez em até 112 vezes, em relação ao nível de petróleo despejado na natureza.
A energia hidrelétrica não fica atrás em relação ao impacto ambiental. A construção de uma usina hidrelétrica demanda a extinção de várias espécies da fauna e flora, a expulsão de moradores, atingidos por conta da construção de barragens. Um exemplo desse fato se relaciona com as polêmicas em torno do projeto de construção da usina de Belo Monte, às margens do rio Xingu. O governo brasileiro se mostrou irredutível no desejo de construção da usina, mesmo diante dos pedidos oficiais da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA), em 05 de abril de 2011, e do Ministério Publico Federal do Pará, em 27 de janeiro de 2011, como também de grupos indígenas, organizações ambientalistas e de proteção aos direitos humanos.
A corrida frenética para a produção enérgica se dá em virtude da necessidade de produzir energia para o processo de transformação da natureza, nos moldes do pensamento moderno, que a humanidade realiza desde a Revolução Industrial, em meados do século XVIII.
O pensamento moderno dessacralizou a natureza, que deixou de ser nossa terra-mátria, nossa Pacha Mama para se tornar a nossa serva, de onde retiramos o lucro desejado. Nas palavras de Francis Bacon (1561 – 1626), filósofo precursor do pensamento moderno: “a natureza tem que ser acossada em seus descaminhos, obrigada a servir e escravizada, deve ser reduzida à obediência e o objetivo do cientista é extrair da natureza, sob tortura, todos os seus segredos” (apud CAPRA, 1982, p. 52).
Essa ideia de Bacon se tornou dogma nos anos subsequentes. O ser humano torturou e escravizou a natureza; visando o lucro, ele produziu a ciência moderna, que desenvolveu técnicas de extração e domínio dos recursos naturais. A ciência moderna, segundo Morin: “[...] exclui todo juízo de valor e todo retorno à consciência do cientista; a técnica é puramente instrumental; o lucro invade todos os campos, inclusive os seres humanos e os seus genes” (2007, p.165).
A humanidade sofre, hoje, os efeitos do processo de transformação da natureza, nos moldes industriais. Nós assistimos a uma verdadeira “rebelião” da natureza contra a forma como tem sido tratada nos últimos séculos, que se manifesta no aquecimento global e suas consequências catastróficas; no aumento no nível de precipitação (chuvas e nevascas); no avanço do nível da água dos oceanos, o que, em breve, poderá fazer com que países inteiros desapareçam como, por exemplo, os Países-Baixos europeus e as ilhas Maldivas; na desertificação de regiões, antes tropicais; no crescimento da ocorrência de furacões, tufões e ciclones etc.
O processo de industrialização, além das consequências advindas do aquecimento global, polui os rios, os mares, a atmosfera, as paisagens naturais. Animais e plantas estão morrendo e algumas espécies são extintas. O lixo industrial é cada vez mais difícil de ser eliminado e tem aumentado cotidianamente. Segundo Morin:
Assim, fomos levados a ignorar os nevoeiros do desenvolvimento industrial. Ignoramos, por exemplo, que os dejetos dos principais produtos do progresso poderiam multiplicar-se e transformar-se em seus principais produtos, sempre mais dificilmente elimináveis, ao passo que seus principais e benéficos produtos poderiam reduzir-se, transformando-se em subprodutos; e, tudo isso, não somente na esfera dos efeitos exteriores do desenvolvimento industrial (poluição, sujeiras, degradações ecológicas), mas no interior das vidas cotidianas (vantagens libertadoras da vida urbana e dos bens disponíveis, sempre mais compensados pelas mutilações da existência especializada, pela perda das solidariedades, pela automação dos indivíduos, pela submissão de corpos e espíritos aos ritmos cronometrados pelas máquinas) (2010, p. 30).
O processo de industrialização não atinge apenas a natureza, como também o próprio ser humano, que faz parte da natureza pela sua constituição biogenética, mas separado dela por meio de sua cultura. A industrialização, produto da ação humana em um processo recursivo, forma o nomos cultural de um novo humano. A cultura fabril condiciona o humano, sua vida passa a ser ditada pela lógica inerente à máquina. O ser humano passa a ser visto como mera peça viva de produção. E ele, assim, se define; ele reduz a totalidade de seu ser e sua identidade é dada pela sua profissão, ou seja, pelo que ele produz.
Os grandes centros industriais se tornaram cidades-dormitórios, onde as pessoas vivem isoladas umas das outras; os antigos laços de solidariedade se tornam raridade; a violência está espalhada na sociedade. Ela se manifesta no seio familiar, nas escolas, nas ruas, no trânsito, nas guerrilhas urbanas entre facções, entre policiais e criminosos.
O processo de morte e destruição, que a humanidade vem realizando, nos últimos séculos, reflete diretamente na vida particular das pessoas. Muitas estão vivendo uma vida sem sentido, entregando-se às drogas ilícitas ou precisando de drogas lícitas para dormir, para ficar acordadas, para se relacionar com os outros, para fazer sexo. Segundo Morin:
Enfim, a morte ganhou espaço em nossas almas. As forças autodestrutivas, latentes em cada um de nós, foram particularmente ativadas, sob o efeito de drogas pesadas como a heroína, por toda parte onde se multiplica e cresce a solidão e a angústia. (2000, p. 71).
Podemos perceber esse desespero e vazio que as pessoas estão vivendo no aumento do número de suicídio e de hospitais psiquiátricos. Segundo Morin: “De 1962 a 1997 multiplicou por três o número de suicídios e hospitais psiquiátricos” (1997, p. 140). A atual forma de organização da sociedade impede ou, ao menos, dificulta a realização das pessoas. As pessoas, vivendo sozinhas, sem um sentido para a sua vida, vivem desesperadas, estressadas, buscando a todo o custo encontrar a felicidade. Talvez os locais, onde elas a procuram não sejam os locais corretos e talvez aquilo que elas acreditam ser a felicidade também não o seja.
As pessoas são movidas pela cultura moderna na qual estão inseridas; ao buscar as benesses ofertadas por ela, já que essas benesses se tornam sinônimo de felicidade, a cultura é, então, reforçada pelo desejo de felicidade das pessoas, que por sua vez, exigem mais esforço das pessoas. Para Morin:
A cultura de massa delineia uma figura particular e complexa da felicidade: projetiva e identificativa simultaneamente. A felicidade é mito, isto é, projeção imaginária de arquétipos de felicidade, mas ao mesmo tempo idéia-força, busca vivida por milhões de adeptos. Esses dois aspectos estão, em parte, radicalmente dissociados, em parte, radicalmente associados. (1975, p. 110).
A cultura moderna, a sociedade e o sujeito são movidos por uma ideia-força de felicidade. Para compreendermos a forma como se dá esse movimento, se faz necessário compreender o impacto que têm as ideias para o ser humano e para a sociedade e o que são para o ser humano essas ideias que atuam dentro da ecologia das ideias.

O ser humano é simultaneamente 100% biológico e 100% cultural, ou seja, a constituição do nosso ser é formada pela dialogia entre natureza e cultura, e ambas são distintas e complementares. Essa dialogia proporciona uma mutação em nossa natureza humana, a partir da relação entre a nossa natureza orgânica e a cultura. A cultura surge de nossas capacidades mentais, mas nós só as temos devido à cultura. Segundo Geertz: “Assim, a hominização biológica foi necessária para a elaboração da cultura, mas a emergência da cultura foi necessária para a continuação da hominização até o neandertal e o sapiens” (apud MORIN, 2005b, p. 33).
O ser humano não é um animal, no sentido exclusivamente biológico, nem um ente espiritual criado pela cultura, mas é formado pela união hipostática de sua estrutura biofísica com sua estrutura cultural. Logo, ele nunca deixará de ser um animal nem de ser cultural. Porém ele não se reduz a nenhuma dessas estruturas. O humano é animal cultural, Homo Culturalis. Ele é gerador da cultura que o gera. O que torna o humano sapiens é a cultura, que só existe por ele ser sapiens.
A mitologia grega traz essa relação dialógica na narrativa da criação do ser humano, através da história dos irmãos titãs Prometeu e Epimeteu[2]. Nessa narrativa, Prometeu fez o homem a partir de uma mistura de barro e água, e o fez à semelhança dos deuses. Epimeteu ficou encarregado de distribuir os dons necessários para a sobrevivência de cada espécie de animal, como força, velocidade, resistência, asas, garras etc. No momento em que Epimeteu daria um dom para o homem, ele percebe que não havia mais dons, pois os havia dado aos outros animais. E relata o fato a Prometeu.
Prometeu, com a ajuda de Atena (Palas Atena, deusa da sabedoria, da estratégia bélica, da civilização, das artes, da justiça), rouba o fogo sagrado dos deuses e o dá ao homem. O fogo é personificado pelo deus Hefesto que, além de ser o deus do fogo, também é o deus dos vulcões, local onde se localizam as suas forjas, da técnica[3], da metalurgia. Hefesto é o ferreiro divino, responsável pela construção dos raios de Zeus, o tridente de Poseidon, as flechas de Apolo.
O homem, diferente dos outros animais, somente se tornou homem, com a ajuda da sabedoria de Atena e com o fogo divino, como presente. Logo, o homem é biologicamente o mais fraco dos seres vivos por não ter dons orgânicos que garantiriam a sua sobrevivência; porém com o uso do fogo, que representa a técnica dos deuses, o homem pode aquecer-se do frio, construir armas a fim de subjugar os animais e ferramentas para cultivar a terra. Isso lhe permitiu tornar-se o mais forte dos seres.
A humanidade criou os deuses e os deuses criaram a humanidade, ambos são criadores e criaturas; não haveria humanidade sem os deuses, nem deuses sem a humanidade. Para Morin:
Produto de nossa alma e mente, a noosfera está em nós e nós estamos na noosfera. Os mitos tomaram forma, consistência e realidade com base nas fantasias formadas por nossos sonhos e nossa imaginação. As idéias tomaram forma, consistência e realidade com base nos símbolos e nos pensamentos de nossa inteligência. Mitos e Idéias voltaram-se sobre nós, invadiram-nos, deram-nos emoção, amor, raiva, êxtase, fúria. Os humanos possuídos são capazes de morrer ou de matar por um deus, por uma idéia. No alvorecer do terceiro milênio, como os daimons dos gregos e, por vezes, como os demônios do Evangelho, nossos demônios “idealizados” arrastam-nos, submergem nossa consciência, tornam-nos inconscientes, ao mesmo tempo em que nos dão a ilusão de ser (2000, p. 29).
O ser humano por ser, ao mesmo tempo, natureza e cultura, necessita de dois mundos – duas esferas – para revelar a sua humanidade. A primeira é a Biosfera, palavra formada a partir da junção de dois vocábulos gregos: βίος (bíos, que significa: vida) e σφαίρα (sphaira, que quer dizer: esfera), logo Biosfera é esfera da vida, o ecossistema de onde o ser humano retira os alimentos para sobreviver. Mas, simultaneamente, ele necessita de outra esfera para ser humano, a Noosfera, também formada pela junção de dois vocábulos gregos νος (nous, que quer dizer: mente, inteligência, espírito) e σφαίρα. (sphaira, que quer dizer: esfera). Logo, Noosfera é o mundo das ideias[4], dos espíritos. Segundo Morin: “Todas as sociedades humanas engendram uma noosfera, esfera das coisas do espírito, saberes, crenças, mitos, lendas, idéias, onde os seres nascidos do espírito, gênios, deuses, idéias-forças, ganham vida a partir da crença e da fé” (2005b, p. 44).
Os seres da noosfera, deuses, gênios, ideias-força, embora criados pela mente humana, transcendem-na e ganham autonomia em relação ao humano que os criou e voltam em círculo recursivo, a fim de organizar a coletividade e o indivíduo. Há uma relação direta entre os humanos e os seres da Noosfera. Eles podem possuir o ser humano, em rituais religiosos, como a umbanda[5], espiritismo[6], cristianismo pentecostal[7], em que a entidade da noosfera incorpora em um fiel e se manifesta, com expressões faciais e corporais próprias da entidade, diferentes das do fiel e comunica-se, a partir da fala do sujeito possuído; fala essa que muda da tonalidade e vocabulário ao idioma. Os seres da noosfera comunicam com os humanos e estes narram seus diálogos e suas visões nos livros sagrados, nas pregações. Os seres da noosfera também se dão como alimento a fim de reforçar a fé e a conduta dos fiéis, conforme a eucaristia católica, em que o pão e o vinho se tornam o corpo e sangue de Jesus. De acordo com Morin:
Um dos traços importantes do meu trabalho foi deixar de subestimar os aspectos imaginário e mitológico do ser humano. Algo que me tinha deveras impressionado quando assisti a uma cerimônia de Candomblé no Brasil, e da qual participei, foi constatar que, num momento determinado, os participantes, os crentes, invocam os espíritos ou deuses tais como Iemanjá; num dado momento, um dos espíritos encarna num dos participantes e fala através deste. Além disso, é possível a presença de vários espíritos. O que significa tudo isto? Significa que os deuses têm uma existência real; essa existência é-lhes conferida pela comunidade dos crentes, pela fé, pelo rito. Mas uma vez que o deus existe, é capaz de nos possuir, e é essa a relação particular que nutrimos com os "deuses", ou com o nosso "Deus", ou as com nossas idéias (in: MARTINS; SILVA, 2003, p. 19).
Os homens sacrificam a sua própria vida, matam e guerreiam em nome dos deuses. E na modernidade, eles também o fazem em nome de ideias, que, por sua vez, adquiriram as mesmas forças dos deuses de outrora. Assim, as ideias ou os deuses dominam o nosso modo de pensar e agir, de maneira imperceptível à razão.
O ser humano apreende o real por meio da noosfera. Ela é o meio condutor do espírito humano, que nos põe em comunicação com o mundo, com os outros e com os fenômenos. Assim, nós vivemos um paradoxo em relação à noosfera, pois é por meio dela que apreendemos o mundo, mas, ao mesmo tempo, ela nos cega para o mundo. O que nós entendemos por real não é o real propriamente dito, mas uma cópia do real realizado na noosfera, que infelizmente nos impossibilita de saber se aquilo que acreditamos ser o real está correto ou não. Segundo Morin: “A noosfera é uma duplicação do real que recobre o real e parece se confundir com ele” (Ibidem, p. 44).
O nosso modo de pensar e entender o mundo se dá na noosfera. Nela estão presentes todos os elementos de nossa cultura. Portanto, não há conhecimento puro, independente da abordagem utilizada em relação ao objeto de estudo, seja ele filosófico, religioso, poético ou científico. Toda a forma de conhecimento é cultural, ou seja, é uma recriação simbólica do real. Segundo Morin:
Por seu lado, a hipercomplexa maquinaria sociocultural comporta não só um núcleo organizacional profundo (paradigmático) que comanda/controla o uso da lógica, a articulação dos conceitos, a ordem dos discursos, mas também modelos, esquemas, princípios estratégicos, regras estratégicas, preconstruções intelectuais, estruturações doutrinárias. Enfim, e, sobretudo, as cultura modernas justapõem, alternam, opõem, complementam uma enorme diversidade de princípios, regras, métodos de conhecimento (racionalistas, empiristas, místicos, poéticos, religiosos etc.) (2008, p. 22).
A compreensão da noosfera e do modo como ela autorregula a nossa maneira de pensar e de nos comportar, seja no âmbito individual, seja no coletivo vai de encontro à pretensa objetividade do pensamento moderno. Não só a religião pode ser o ópio do povo, conforme pregara Marx[8], mas toda a forma de pensamento humano pode nos cegar e nos embriagar. Entretanto, é somente a partir da noosfera, do mundo simbólico, que nós podemos reconstruir nossa vida e traçar novos caminhos para a humanidade. Segundo Morin:
Entretanto, são as idéias que nos permitem conceber as carências e os perigos da idéia. Daí resulta este paradoxo incontornável: devemos manter uma luta crucial contra as idéias, mas somente podemos fazê-lo com a ajuda de idéias. Não nos devemos esquecer jamais de manter nossas idéias em seu papel mediador e impedir que se identifiquem com o real. Devemos reconhecer como dignas de fé apenas as idéias que comportem a idéia de que o real resiste à idéia. Esta é uma tarefa indispensável na luta contra a ilusão. (2000, p. 30).
A noosfera atual é marcada pelo desejo de consumo. O ser humano é auto-eco-organizado pelo consumismo. Assim, o seu Ser se estrutura dentro dessa cultura, o seu modo de pensar, agir, sentir. O consumismo, como já dissemos, é sinônimo de felicidade. E é essa a ideia-força, que atualmente, no nível da noosfera, desempenha a força que os deuses tinham outrora. Segundo Morin:
A felicidade moderna é partilhada pela alternativa entre a prioridade dos valores afetivos e a prioridade dos valores materiais, a prioridade do ser e a prioridade do ter, e ao mesmo tempo faz força para superá-la, para conciliar o ser e o ter. A concepção da felicidade, que é da cultura de massa, não pode ser reduzida ao hedonismo do bem-estar, pois, pelo contrário, leva alimentos para as grandes fomes da alma, mas pode ser considerada consumidora, no sentido mais amplo do termo, isto é, que incita não só a consumir os produtos, mas a consumir a própria vida (1986, p. 127).


A humanidade, de modo geral, vive um sono profundo a tal ponto de não conseguir perceber os problemas que ameaçam a vida humana, sejam os que já estão em curso, sejam os iminentes. Nós, em um círculo recursivo, aos moldes modernos, sugamos, de forma predatória, todos os recursos naturais. Essa ação se dá pautada na razão instrumental que, conforme dissemos, condiciona o ser humano à lógica da máquina; assim, o processo de tortura ao qual submetemos a natureza, a fim de retirar dela recursos, também tortura o ser humano torturante. Nós estabelecemos essa relação com a natureza a fim de produzir bens de consumo, pois há uma grande demanda da sociedade por consumo. Os bens de consumo se tornaram, em nosso imaginário, sinônimos de felicidade.
O desejo por consumo, a ânsia insaciável pelo Ter, movimenta a produção e obriga a criação de técnicas cada vez mais sofisticadas de produção. E à medida que produz mais e cria novos produtos, também aumenta o desejo por tê-los. Esse círculo vicioso de produção-consumo coloniza nossa razão e emoção e impede que percebamos suas consequências. Segundo Morin:
O dinheiro, sempre insaciável, se dirige ao Eros, sempre subnutrido, para estimular o desejo, o prazer e o gozo, chamados e entregues pelos produtos lançados no mercado. Em sua expansão "vertical", o capitalismo, depois de haver anexado o reino dos sonhos, se esforça para domesticar o Eros. Ele mergulha nas profundezas do onirismo e da libido. Reciprocamente, o Eros entra triunfalmente no circuito econômico, e, dotado de poder industrial, desaba sobre a civilização ocidental (1990, p. 120).
O Eros não possui limites e não enxerga nada além da concretização de seu impulso. O Eros tem o poder de subordinar e cegar a razão a fim de que essa o auxilie na concretização de seu desejo. Porém, ele foi, ao longo da história humana, cerceado e reprimido pela razão. O Eros, porém, sempre volta à tona e, infelizmente, algumas vezes, ele volta de forma violenta, como reação à forma como fora tratado, sendo responsável por várias barbáries, quando se manifesta em forma de guerras, pedofilia, estupros, assassinatos.
O aprisionamento do Eros iniciou com o surgimento da propriedade privada. O homem possuidor de bens necessitava que sua esposa fosse monogâmica, a fim de garantir que sua propriedade continuasse nas mãos de seus descendentes, após a sua morte. Para Engels:
A Família Monogâmica [...] Baseia-se no predomínio do homem; sua finalidade expressa é a de procriar filhos cuja paternidade seja indiscutível; e exige-se essa paternidade indiscutível porque os filhos, na qualidade de herdeiros diretos, entrarão, um dia, na posse dos bens de seu pai (1991, p. 66).
A cultura, religião, leis orais e escritas buscaram a todo o custo garantir a propriedade privada, e essa, num movimento recursivo, gerou a cultura, religião e leis. Nós podemos perceber um exemplo disso nos Dez Mandamentos Mosaicos. No último deles há, ao mesmo tempo, a proibição de que outras pessoas desejem, a fim de evitar que elas tomem para si a propriedade do homem, o patriarca da família. Essa propriedade correspondia à casa, à mulher, aos escravos e aos animais. Segundo o texto bíblico: “Não cobiçarás a casa do teu próximo; não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem seu escravo, nem sua escrava, nem seu boi, nem seu jumento, nem nada do que lhe pertence” (BÍBLIA, op. cit., p. 91).
A submissão do Eros pela propriedade atinge o seu auge no capitalismo. Esse coloniza nossos sonhos e desejos e coloca o Eros para trabalhar em seu favor. O Eros é reprimido de forma diferente, conforme o fora nas civilizações que precederam ao advento do capitalismo, ele é “enganado”, ou seja, o capitalismo desviou o foco do Eros, da continuidade da vida para a aquisição de bens de consumo. Segundo Morin:
A injeção do erotismo na representação de uma mercadoria não erótica (as publicidades que juntam uma atraente imagem feminina a uma geladeira, uma máquina de lavar ou uma soda) tem por função não apenas (ou tanto) provocar diretamente o consumo masculino, mas de estetizar, aos olhos das mulheres, a mercadoria de que elas se apropriarão; ela põe em jogo junto ao eventual cliente a magia da identificação sedutora; a mercadoria faz o papel de mulher desejável, para ser desejada pelas mulheres, apelando para seu desejo de serem desejadas pelos homens (MORIN, 1975, p.121).
O Eros, em estado de fetiche, conduz nossos sonhos, aspirações e, em especial, nossa razão a fim de que trabalhemos para aquisição de bens de consumo. Esse movimento do Eros contribui para a continuidade do processo de produção e é por ela alimentado, o que gera mais consumo. Essa tríade recursiva entre Eros, consumo e produção (Eros ↔Consumo ↔Produção e Produção ↔ Eros ↔ Consumo), em que uma é simultaneamente causa e efeito das demais, proporciona processo, em curso, de morte do ser humano.
Estamos vivendo um momento de trevas que nos impede a reflexão e ação. Nossas forças de transformação são poucas e frágeis enquanto que as forças de destruição do planeta e da vida humana são muitas e fortes. O processo de fetiche do Eros desdobra-se em mais dois problemas. O primeiro refere-se à crise da esperança e o segundo refere-se à fragmentação do saber.

A esperança de transcender o atual status quo é abafada pela imanência do capitalismo, mas também é minada pela desilusão das propostas de transformação do passado. A queda do Muro de Berlim, em 1989, marcou simbolicamente não somente a derrocada do Socialismo Real, como também um abalo na esperança de transformação de muitos intelectuais e militantes, em especial, aqueles que não pertenciam ao bloco dos países socialistas.
Com a deterioração do mito do “socialismo real” e com o processo reformador da perestroika, que conduz à implosão do totalitarismo comunista e ao desmembramento de seu império (1987-1991), afunda-se a grande religião de salvação terrestre que havia sido elaborada no século XIX para suprimir a exploração do homem pelo homem, bem como a tentativa de construir um modelo de governança planetária, conduzida pelos sacerdotes pertencentes a essa religião de salvação terrestre (MORIN; CIURANA; MOTTA, 2003, p. 79).
O pensamento socialista começa a ser elaborado, a partir do advento do capitalismo mercantil, destacando-se nesse período as reflexões de Thomas More[9] (1478-1535) e Tommasco Campanella[10] (1568-1639). Porém o pensamento socialista ganha corpo e estrutura a partir do Século XIX com o chamado socialismo científico, em especial, com os trabalhos de Karl Marx (1818 – 1883) e Friedrich Engels (1820 – 1895).
O parágrafo de abertura de Manifesto do Partido Comunista de Marx e Engels: “Um espectro ronda a Europa – o espectro do comunismo. Todas as potências da velha Europa unem-se numa Santa Aliança para conjurá-lo: o papa e o czar, Metternich e Guizot, os radicais da França e os policiais da Alemanha” (2009, p. 51), nos revela que os socialistas estavam organizados e, em grande número, se espalhavam pela Europa. E isso provocou um grande desconforto nas forças europeias que, segundo Marx, se uniram para combatê-lo.
O socialismo seria a opção à exploração capitalista. Segundo Morin: “O socialismo propunha uma política de civilização destinada a suprimir a barbárie das relações humanas: a exploração do homem pelo homem, o arbítrio dos poderes, o egocentrismo, a crueldade, a incompreensão” (1997, p. 149).
Os socialistas apostaram que a transformação de uma sociedade opressora capitalista para uma sociedade igualitária socialista ocorreria a partir de operador principal (o partido, o proletariado), de uma ação principal (a tomada do poder), de um núcleo social principal (os meios de produção). Assim, o proletariado seria o motor[11] de transformação, ou seja, ele lutaria contra os aparelhos de repressão burgueses. O proletariado seria dirigido pela massa pensante da ação revolucionária, os líderes do Partido Comunista, o chamado partido de vanguarda. Após o confronto entre as forças burguesas e as forças socialistas e prevendo a vitória dos socialistas, esses assumiriam o poder estatal e controlariam os meios de produção.
No capitalismo, segundo Marx, os burgueses se enriquecem sugando a força de trabalho do proletariado, através da apropriação da mais-valia[12], que é a diferença entre o valor de venda da mercadoria e o valor do que é pago ao trabalhador pela sua força de trabalho, somado ao valor pago pelos meios de produção. Os socialistas, então, propuseram que esses meios de produção fossem controlados pelo Estado; assim, não haveria a exploração do proletariado e o dinheiro excedente da produção voltaria para o proletariado por meio de serviços estatais. O correto conhecimento do funcionamento da forma como se dá a produção e das relações econômicas garantiam, assim, a permanência e continuidade do socialismo.
O socialismo real praticamente se extinguiu da história da humanidade. O primeiro fator que destacamos para a derrocada do socialismo é de ordem epistemológica. Não é possível prever e determinar o futuro a partir do conhecimento do presente e das forças que atuam nele, pois, simplesmente, nós não conhecemos plenamente o presente e há embriões de forças que atuarão futuramente, as quais são imperceptíveis aos nossos olhos, no presente. O conhecimento pleno do presente e uma possível previsão do futuro, conforme quiseram os socialistas, se tornam quase impossíveis, dentro de um sistema ideológico, como ocorreu com o socialismo, pois as pessoas apreendem o mundo a partir das lentes ideológicas, das quais participam ou a ela estão submetidas; mas, ao mesmo tempo, essas lentes ideológicas impedem que as pessoas vejam aquilo que escapa aos seus limites. Segundo Morin:
O que é uma ideologia do ponto de vista informacional? É um sistema de idéias feito para controlar, acolher, rejeitar a informação. Se a ideologia é teoria, ela é, em princípio, aberta à informação que não é conforme a ela, que a pode questionar. Se é doutrina, ela é, em princípio, fechada a toda informação não-conforme. A ideologia política é muito mais doutrina do que teoria. Neste ponto, chegamos ao problema capital: a relação repulsiva e potencialmente desintegradora entre informação e ideologia política. É pelo fato de que a informação é um explosivo virtual para a ideologia, que esta necessita manter uma relação opressora e repressora em relação à informação (1986, p. 45).
O segundo fator deriva do primeiro, visto que não é possível determinar os resultados da dialética, conforme pretenderam os socialistas. Segundo Morin: a “Dialética não caminha sobre os pés nem sobre a cabeça; ela gira, pois é antes de tudo jogo de inter-retro-ações, isto é, elo em perpétuo movimento” (2010, p. 15). O resultado da dialética é algo sempre novo e se é novo, nós não sabemos o que é, pois se soubéssemos, não seria novo e sim conhecido e o que nos é conhecido, não é novo, e sim velho. Assim, como determinar que da dialética estabelecida entre tese – burguesia versus antítese – proletariado, resultaria necessariamente o Estado Socialista?
E ademais, os socialistas acreditaram ser possível a superação da tese pela antítese. Porém, o movimento dialético é ad eternum, ou seja, não tem fim. Assim, do confronto entre tese e antítese originam novas teses e novas antíteses e essa novamente voltam a se enfrentar originando novas ou ressuscitando antigas teses, antíteses. Por exemplo, o socialismo não encerrou a luta entre as forças opostas. Os membros do Partido Comunista passaram a explorar o povo, ou seja, o socialismo ao invés de estabelecer a ditadura do proletariado[13], conforme quiseram os socialistas, estabeleceram a ditadura sobre o proletariado, ou seja, eles recriaram um novo movimento antagônico de forças opostas.
Esse eterno movimento dialético, Morin chama de dialógico. Segundo o autor:
[...] digamos que dialógico significa unidade simbiótica de duas lógicas, que simultaneamente se alimentam uma à outra, se concorrenciam, se parasitam mutuamente, se opõem e se combatem mortalmente.
Digo dialógico, não para afastar a idéia de dialéctica, mas para fazê-lo derivar da dialéctica. A dialéctica da ordem e da desordem situa-se ao nível dos fenómenos; a idéia de dialógico situa-se ao nível do princípio e, como ouso adiantar, ao nível do paradigma [...]. Com efeito, para conceber a dialógica da ordem e da desordem, temos de suspender o paradigma lógico onde a ordem exclui a desordem e, inversamente, onde a desordem exclui a ordem. Temos de conceber uma relação fundamentalmente complexa, ou seja, ao mesmo tempo complementar, concorrente, antagônica e incerta, entre estas duas noções. Assim, a ordem e a desordem, sob determinado ângulo, são, não só distintas, mas também totalmente opostas; sob outro ângulo, apesar das distinções e oposições, estas duas noções são uma (1977, p. 79-80).
O terceiro fator que atribuímos para a queda do socialismo real equivale ao fator que também proporciona as crises do capitalismo[14]. O capitalismo e o socialismo foram estruturados a partir do pensamento moderno, logo a crise de ambos os sistemas remete à falha do próprio pensamento moderno.
Ambos os sistemas apostaram na produção como chave para o desenvolvimento. No capitalismo, o fetiche está generalizado na população; no socialismo, houve concentração da produção nas mãos dos dirigentes do Partido Comunista. E esses garantiram a curta permanência de seu poderio, através do uso da força militar sobre a população. Assim, o capitalismo exerce o seu domínio pela escravidão dos sonhos e aspirações, enquanto o socialismo exerceu o seu domínio reprimindo os sonhos e as aspirações pelo uso da força bélica.
Ademais, o socialismo real, aos moldes soviéticos, não se deu a partir da transição de uma sociedade capitalista para a sociedade socialista, conforme o proposto por Karl Marx. Mas da transição de uma sociedade feudal para a socialista, tal como o ocorrido com as duas grandes potências socialistas Rússia e China; ambas não viveram a experiência do capitalismo antes de serem socialistas.
A transição armada do feudalismo para o socialismo talvez explique o porquê do grande fascínio dos países socialistas pela produção bélica. Da mesma forma que o Eros dentro do capitalismo sofreu fetiche por meio da mercadoria, no socialismo, o Eros também foi submetido, não pelos bens de consumo, mas pela produção bélica. Assim, as sociedades socialistas foram movimentadas por um motor recursivo, entre militarismo de Estado, submissão da população, produção bélica.
A crise da esperança se explica, então, pela crise da forma como se dá a produção, conforme ocorre nos moldes modernos, de efeitos nefastos. Logo, para compreendermos a crise da esperança, devemos entender a crise, gerada a partir do pensamento moderno.

O Mito de Rei Midas[15] nos ajuda a compreender o pensamento moderno, as aspirações e as cegueiras presentes no conhecimento, na ciência, na política, na economia moderna, as suas consequências para o planeta e para o ser humano, bem como a onda de descrença que impregnou grande parte dos corações, após a falência da utopia moderna. E, talvez, ele revele também o futuro da humanidade após o período moderno.
Segundo a mitologia grega, Sileno, professor e amigo fiel de Baco, o deus do vinho, desaparecera, e vagando, bêbado e perdido, pelas florestas de Frígia, foi levado por camponeses ao Rei Midas, que lhe forneceu uma boa hospedagem e, após onze dias, o levou são e salvo a Baco. O deus ficou extremamente agradecido e, como recompensa, disse que atenderia a qualquer pedido do Rei. Midas, então, pediu que tudo o que tocasse se transformasse em ouro. Baco, mesmo sabendo da gravidade do pedido, atendeu à solicitação. O Rei Midas voltou feliz para a casa e já, no caminho, começou a testar seus poderes. Ele arrancou um ramo de carvalho e esse se transformou em ouro; pegou uma pedra e um torrão de terra e ambos imediatamente se transformaram em ouro. Em sua casa, o Rei ordenou que seus criados lhe servissem um banquete. Porém, para seu espanto, o pão transformou-se em ouro, impossibilitando a mastigação; tomou um cálice de vinho, mas esse se tornou ouro derretido, ao ser engolido. E, o mais trágico, sua filha ao encostar-se a seu pai, também, transformou-se em uma estátua do nobre material. Midas foi tomado por uma enorme tristeza e, diante da morte certa por não poder se alimentar, ergueu os braços, implorando a Baco, que lhe retirasse seu dom. Baco, por ser uma divindade benevolente, atendeu ao pedido de Midas e mandou que ele fosse ao rio Pactolo, retirasse um pouco de água e aspergisse aquilo que tocara; assim fez Midas, a começar por sua filha. Depois de ter restituído a natureza dos objetos que havia tocado, Midas abandonou as riquezas e foi viver nos campos, cultuando o deus dos bosques, Pã.
O desejo de transformar tudo em ouro, ou melhor, em fonte de riqueza e desenvolvimento marcou o pensamento moderno e gerou uma grande empolgação na população.
Segundo a concepção moderna, após o fim da Idade Média[16], o ser humano, fazendo o uso correto da razão, em suas duas vertentes, racionalismo e empirismo, atingiria a maioridade intelectual, ou seja, ele pensaria por si só, sem uma força impositiva, tal como eram os dogmas católicos, no período precedente. Assim, o ser humano, livre, conduziria os desígnios de sua própria vida e da sociedade.
Podemos perceber um exemplo de crença na modernidade na resposta de Immanuel Kant (1724 – 1804) à pergunta “O que é Iluminismo?”. Segundo o filósofo: “O iluminismo é a saída do homem da sua menoridade de que ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de se servir do entendimento sem a orientação de outrem” (1988, p. 11).
O pensamento moderno ocidental levou um grande tempo para ser gerado, e seu inicio não se deu de forma unânime, haja vista, que durante a Idade Medieval, a população europeia vivia, em sua maioria, em feudos, sendo difícil a comunicação entre os feudais. Ele nasce a partir de várias correntes artísticas, cientificas, filosóficas, políticas, teológicas que inicialmente tiveram em comum a busca da liberdade do ser humano da tutela dogmática da Igreja Católica.
Encontramos germes do pensamento moderno, dentro do próprio catolicismo, no final do período escolástico, tais como os filósofos e teólogos Duns Scotus[17] (1265 – 1308) e seu discípulo Guilherme de Ockham[18] (1285 – 1347). Porém o modernismo realmente começa a ser desenhado e delineado com o advento do Renascimento[19] e ganha consistência teórica a partir do século XVIII, Século das Luzes. As duas principais revoluções políticas do século XVIII: A Guerra da Independência dos Estados Unidos da América (1775 – 1783), e a Revolução Francesa (1789 – 1799) sinalizam a mudança ocorrida no nomos e ethos da humanidade.
A humanidade doravante foi tomada pelo complexo do Rei Midas. Ela creu ser possível transformar qualquer coisa que tocasse em ouro, desde a regulamentação da sociabilidade às transformações da natureza, via ciência e tecnologia. A promessa de uma vida paradisíaca foi trazida do pós-morte, conforme pregara a Igreja Católica, para esta vida. E os sacerdotes deixaram de ser os clérigos católicos para se tornar os cientistas. Segundo Morin:
É impressionante que sobre a ruína da providência divina a humanidade leiga, a Filosofia das luzes, a ideologia da razão tenham podido fazer uma hipóstase e uma nova divinização da ideia de progresso, ao transformá-lo em lei e necessidade da história humana; e esta ideia foi tão desencarnada, tão desacoplada de toda realidade física e biológica que levou a ignorar o princípio de corrupção e desintegração que atua na PHISIS, no cosmos, na Bios (MORIN, 2010, p. 29-30).
O pensamento moderno, ao propor a ruptura e a superação do pensamento medieval-religioso, proporcionou duas mudanças: a primeira foi na noosfera, com o destronamento do deus-moral judaico-cristão; a segunda foi referente ao conhecimento, que se tornou fragmentado e hiperespecializado.

O pensamento moderno necessitou de uma ruptura efetiva com o pensamento religioso. Essa ruptura foi motivada contra o poderio[20] político-econômico da Igreja Católica no período medieval, o que impossibilitava as transformações modernas. Para tal, foi preciso a revolta armada, como o ocorrido nos anos da Revolução Francesa (1789 – 1799). Porém somente a imposição da baioneta não foi suficiente para destituir o poderio clerical, que contava, desde a queda do Império Romano, em 476 d.C., com mais de um milênio de história. Foi necessária uma mudança na noosfera europeia e, em um círculo recursivo, essa mudança foi a responsável pela revolução armada.
A mudança na noosfera que defendemos neste trabalho parte da apresentação da morte de Deus, narrada pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844 – 1900), em que ele descreve a morte do Deus judaico-cristão; mas divergimos, em parte, da concepção nietzschiana. Segundo o filósofo:
Não ouviram falar daquele homem louco que em plena manhã acendeu uma lanterna e correu ao mercado, e pôs-se a gritar incessantemente: “Procuro Deus! Procuro Deus!”? – E como lá se encontrassem muitos daqueles que não criam em Deus, ele despertou com isso uma grande gargalhada. [...] O homem louco se lançou para o meio deles e trespassou-os com seu olhar. “Para onde foi Deus?”, gritou ele, “já lhes direi! Nós o matamos – vocês e eu. Somos todos seus assassinos! Mas como fizemos isso? Como conseguimos beber inteiramente o mar? Quem nos deu a esponja para apagar o horizonte? Que fizemos nós ao desatar a terra do seu sol? Para onde se move ela agora? Para onde nos movemos nós? Para longe de todos os sóis? [...] Não temos que acender lanternas de manhã? Não ouvimos o barulho dos coveiros a enterrar Deus? Não sentimos o cheiro da putrefação divina? – também os deuses apodrecem! Deus está morto! Deus continua morto! E nós o matamos! Como nos consolar, a nós, assassinos entre os assassinos? O mais forte e mais sagrado que o mundo até então possuíra sangrou inteiro sob nossos punhais – quem nos limpará este sangue? [...] Não deveríamos nós mesmos nos tornar deuses, para ao menos parecer dignos dele? [...] (2001, fragmento 125, p.147-8).
Para Nietzsche, o Deus judaico-cristão morreu, e morreu antes mesmo do advento do iluminismo, Ele fora assassinado pelas mãos de seus seguidores, no período medieval, isto é, o homem louco com uma lanterna nas mãos, em plena manhã, procurava iluminar o que já estava claro e evidente. E gritava, à procura de Deus, que estava morto havia algum tempo e já se encontrando em estado de putrefação. E, com a morte de Deus, o ser humano deveria se tornar um deus para si mesmo, concepção em que Nietzsche, em outro momento, trabalha o conceito de super-homem[21].
A leitura que fazemos do ocorrido com Deus judaico-cristão, após a passagem do período medieval para a idade moderna, é que Ele foi destronado do seu posto de único regulador da moral, no nível da noosfera, mas, o Deus judaico-cristão permanece vivo e presente na noosfera, haja vista, que há pessoas que o cultuam e, ademais, os deuses não morrem, pois eles são imortais; eles podem perder as suas forças, caso caiam no esquecimento da humanidade, porém a qualquer momento, eles podem ressurgir das cinzas, conforme Fênix. Os deuses, embora oriundos na mente humana, têm vida própria e, uma vez criados, eles agem independentemente da vontade daqueles que os criaram, não podendo, assim, os seus criadores os destruir. Os deuses, semelhante ao que ocorre com as ideias-força são, segundo Morin: “[...] dotadas de vida própria porque dispõem, como os vírus, em um meio (cultural/cerebral) favorável, da capacidade de auto nutrição e de auto-reprodução” (2008, p. 136).
O Deus judaico-cristão perdeu a sua onipresença e onipotência[22], ou seja, ele, só, não regula a sociedade, nem tem mais poderes para tal na sociedade moderna. Ele, ao ser destronado de sua unicidade, permitiu que deuses nascessem e outros renascessem na noosfera. E, neste panteão moderno, também surgiram ideias-força, que, conforme dissemos, possuem, na modernidade, a mesma força dos deuses de outrora.
Assim, como o Deus judaico-cristão divide a noosfera com outros deuses e ideias-força, então, não lhe pertence mais o título de “Regulador Universal da Moral”, sendo que esse título, para o todo da sociedade ocidental, não é propriedade de nenhum outro deus ou ideia-força. Então, como não há no nível da noosfera um único ente regulador da moral, o deus possuidor do título de deus-moral está morto[23], mas não o ente (o Deus judaico-cristão) que outrora era possuidor desse título.
Os seres da noosfera travam suas lutas no mundo dos humanos. Assim, na guerra entre os seres humanos, uma ideia-força ou um deus se torna soberano em relação aos demais ou um ser único, absoluto. Esse posto é alcançado à custa da morte, tortura e perseguição de vários seguidores de outras ideias-forças ou outros deuses, tais como o ocorrido nas Inquisições Católica e Calvinista, na Jihad (Guerra Santa) muçulmana. E também nas perseguições ideológicas, como as guerras particulares, durante a Guerra Fria (1945 – 1991), o macarthismo[24], nos Estados Unidos da América, que perseguiu aqueles que pensavam diferente da ideologia capitalista norte-americana, classificando-os de comunistas; e o mesmo ocorrido na União Soviética, sob a tutela do Partido Comunista, que perseguiu os que pensavam diferente do comunismo oficial.
O Deus judaico-cristão garantiu durante a Idade Média o posto de regulador único da moral, por meio das pregações ideológicas do clero, mas também pela força do Tribunal do Santo Ofício – órgão interno da Igreja Católica, responsável pela Inquisição –, contudo foi destituído do cargo pelos modernos, em nome das ideias-força da ciência e da razão. Porém essas ideias-força não conseguiram assumir o posto do Deus.
Isso causou um grave problema para o pensamento ético, pois a humanidade não possui mais um único fundamento que garanta a certeza da ação ética, ou seja, não há mais parâmetros que nos indiquem os caminhos a serem seguidos e se esses estão corretos[25] ou não, visto que algo está correto ou errado em relação a alguma outra coisa.
O período atual apresenta uma crise de fundamentos, ou seja, tudo aquilo que nos dava aporte para nossas ações éticas não tem mais a força reguladora e mobilizadora da sociedade. Segundo Morin:
Os fundamentos da ética estão em crise no mundo ocidental. Deus está ausente. A lei foi dessacralizada. O superego social já não se impõe incondicionalmente e, em alguns casos, também está ausente. O sentido da responsabilidade encolheu; o sentido da solidariedade enfraqueceu-se.
A crise dos fundamentos da ética situa-se numa crise geral dos fundamentos da certeza: crise dos fundamentos do conhecimento filosófico, crise dos fundamentos do conhecimento científico (2007, p. 27; grifo nosso).
A crise de fundamentos gerou uma enorme desesperança e vazio em diversos grupos sociais que lutavam por uma sociedade mais justa. Muitos militantes e intelectuais estagnaram diante das determinações neoliberais; outros, tal como Francis Fukuyama (1992), afirmaram que chegamos ao fim da história e a única alternativa era adaptar-nos às imposições neoliberais. Essas reações acontecem, pois, desde o surgimento dos primeiros seres humanos, os fundamentos nos davam a certeza de que nossa ação daria certo e que estávamos agindo corretamente. E mesmo sendo a certeza uma ilusão, pois é impossível conhecer plenamente o real, porque o entendimento que temos do real é uma duplicação no nível da noosfera, a humanidade moderna pôde traçar os seus caminhos, conforme aquilo que acreditava ser a verdade.
A modernidade foi desejada pelo ser humano, assim os paradigmas modernos foram aos poucos sendo construídos, paralelamente ao surgimento da sociedade moderna. Assim, diante da falência do modelo medieval, que se deu devido às falhas da cristandade e pelo desejo de liberdade de pensamento e ação do indivíduo, os modernos puderam pensar a ética e a ação humana, baseados em fundamentos da razão e da ciência moderna, por eles criados.
A crise da modernidade, talvez, tenha surgido precocemente, não havendo tempo de assimilação por parte da maioria da humanidade, nem mesmo do que seja a modernidade e, principalmente, de suas falhas epistemológicas, estruturais e das consequências da ação e do pensamento moderno. A fragmentação do saber, característica moderna, contribuiu e contribui em grande parte para esse fenômeno.

A mudança da noosfera promovida pelos modernos, que substituiu o Deus-moral pela razão e ciência, essas endeusadas, exigiu, em um círculo recursivo, a fragmentação do saber. O pensamento, no período medieval, era concebido de forma unitária. As diversas formas de saber estavam interligadas entre si e submissas ao pensamento teológico. Ao contrário do que propagou a ideologia iluminista como a Idade Média sendo a “idade das trevas”, nós encontramos, nesse período, grandes tratados[26] sobre várias áreas da ciência, como tratados médicos, matemáticos, astrológicos, cartográficos entre outros. A Idade Média foi, portanto, produtora de ciência o que possibilitou o desenvolvimento do período moderno. Um exemplo de ciência interligada à religião se encontra nas obras de Galileu Galilei (1564 – 1642), considerado um dos pais da Ciência Moderna. Galileu desenvolveu parte de seus estudos sobre o movimento do universo financiado pelo Vaticano, em especial, sob o papado de Urbano VIII (1568 – 1644; papa entre os anos de 1623 e 1644), que incentivou os estudos heliocêntricos de Galileu; porém, por ironia da história, sob esse papado é que Galileu foi condenado.
A condenação de Galileu ilustra o porquê da fragmentação do conhecimento, ocorrido na modernidade. Os modernos, para desenvolverem o conhecimento livre das amarras dogmáticas da Igreja Católica, necessitaram fragmentar o conhecimento, uma vez que os sistemas ético-morais eram controlados pela Igreja Católica. A fragmentação possibilitou o surgimento e o desenvolvimento das ciências autônomas, porém essas disciplinas e a ética foram separadas e concebidas de forma distinta. Segundo Morin:
Os tempos modernos estimularam o desenvolvimento de uma política autônoma, de uma arte autônoma, levando a um deslocamento da ética global imposta pela teologia medieval. Certo, a política nem sempre obedecia à ética. Mas, desde Maquiavel, a ética e a política acham-se oficialmente separadas, visto que o príncipe (o governante) deve obedecer à lógica da utilidade e da eficácia, não à moral. A economia comporta, claro, uma ética dos negócios, exigência de respeito aos contratos, mas obedece aos imperativos do lucro, o que leva à instrumentalização e à exploração de outros seres humanos. A ciência moderna alicerçou-se sobre a separação entre juízo de fato e juízo de valor, ou seja, entre, de um lado, o conhecimento e, de outro, a ética. A ética do conhecimento pelo conhecimento à qual a ciência obedece não enxerga as graves consequências geradas pelas extraordinárias potências de morte e de manipulação suscitadas pelo progresso científico. O desenvolvimento técnico, inseparável do desenvolvimento científico e econômico, permitiu o hiperdesenvolvimento da racionalidade instrumental, que pode ser posta a serviço dos fins mais imorais. Também as artes se emanciparam progressivamente de toda finalidade edificante e rejeitam qualquer controle ético. Certo, todas essas atividades necessitam de um mínimo de ética profissional, mas elas só excepcionalmente carregam uma perspectiva moral (2007, p. 25).
A fragmentação do saber separou o conhecimento em disciplinas isoladas uma das outras; em especial, essas disciplinas estão separadas da ética e submissas à economia. Assim, cada disciplina estuda e, cada vez mais, aprofunda o conhecimento que é específico de sua área de conhecimento, mas, paralelamente, menos conhecem o todo em que estão inseridas todas as disciplinas. Essa fragmentação impossibilita a apreensão do global da sociedade e, sem esse conhecimento do todo, as pessoas se tornam cegas para a realidade e os seus problemas, bem como para propor alternativas a eles.
No momento em que o planeta tem cada vez mais necessidades de espíritos aptos a apreender seus problemas fundamentais e globais, a compreender sua complexidade, os sistemas de ensino continuam a dividir e fragmentar os conhecimentos que precisam ser religados, a formar mentes unidimensionais e redutoras, que privilegiam apenas uma dimensão dos problemas e ocultam as outras [...] (MORIN; CIURANA; MOTTA, 2003, p. 11-2).
A fragmentação diminuiu o sentimento de responsabilidade social, cada qual se torna responsável apenas por aquilo que é de sua especificidade. O sujeito não é cobrado para agir no amplo contexto da sociedade, nem no jogo democrático político, que também se tornou um campo de atuação de especialistas, o que afasta as pessoas da política e essa das pessoas. As pessoas distantes da vida política permitem que a elite as conduza ao seu bel prazer. Assim, a política se torna reguladora do neoliberalismo e continuadora do alto nível de desigualdade social. A elite, segundo Morin; “controla a informação, competência gestionária e a educação especializada de alto nível. A política está a serviço do crescimento e do funcionamento harmonioso do conjunto do sistema” (1997, p. 125).
A fragmentação do saber, ao separar o conhecimento, também separou as dimensões subjetivas e objetivas da realidade, o que proporcionou a simplificação do conhecimento, ou seja, o conhecimento passou a ser visto apenas em uma dimensão, a dimensão objetiva. A noosfera e os aspectos subjetivos foram deixados de ser considerados e buscou-se um conhecimento neutro, o que, de antemão segundo o pensamento complexo, é impossível.
O conhecimento reduzido e fragmentado não é capaz de perceber que ele próprio é o causador dos problemas atuais, que engendram e potencializam as forças destrutivas, as barbáries[27] presentes no espírito humano, tais como as detonações das bombas atômicas, as explorações ocorridas no mundo do trabalho. Segundo Petraglia:
Hoje, no entanto, todos estão perplexos diante dos rumos tomados, cujas consequências não foram avaliadas pelos indivíduos, tampouco pelos grupos, que perderam a noção de equilíbrio. A corrida pelo progresso despertou a concorrência entre os grupos e a competição entre os indivíduos; gerou egoísmo, individualismo, solidão, desespero e dor. Somos vítimas de varias carências e, como seres sociais e sócios de uma coletividade, dividimos com ela os lucros e os prejuízos. A fragmentação do conhecimento e a especialização deixaram marcas e cicatrizes nos corpos e nas almas dos que ansiavam por esse tipo de avanço, mas acreditamos que o ser humano não deseja ser vítima de si mesmo (2001, p. 13-4).
A análise de conjuntura complexa, que propomos no início deste capítulo, nos revela os problemas atuais e a estrutura dialógica, que movimenta a humanidade, nas duas primeiras décadas do terceiro milênio e é formada pela tríplice aliança: Consumo ↔ Produção ↔ Eros. Apresentamos algumas dificuldades para propormos alternativas a esse modelo destrutivo, que reforça a crise da esperança, oriunda do fim do socialismo e do fracasso do pensamento moderno: a ausência de fundamentos fortes o suficientes que possibilitem movimentar a humanidade em sentido contrário, e a fragmentação do saber que dificulta a apreensão da multidimensionalidade da realidade.
Diante desse cenário, difícil de ser mudado, Edgar Morin, busca na própria estrutura dialógica entre Eros e Thánatos, caminhos e alternativas para a humanidade.

Se Eros, que é o impulso de vida, está a serviço de Thánatos, que é o impulso de morte, ambos os impulsos estabelecem uma eterna relação dialógica, em que um é o contrário do outro. E no choque e na disputa entre ambos, surgem novas mortes a partir da vida inicial e novas vidas a partir da morte inicial. Conforme percebemos na fábula de Esopo, autor grego, que viveu por volta do século VI a.C., ambos os impulsos aparecem unidos, não sendo possível separá-los. Segundo o fabulista:
Era uma tarde quente e abafada, e Eros, cansado de brincar e derrubado pelo calor, abrigou-se numa caverna fresca e escura.
Era a caverna da própria Morte.
Eros, querendo apenas descansar, jogou-se displicentemente ao chão, tão descuidadamente que todas as suas flechas caíram.
Quando ele acordou, percebeu que elas tinham se misturado com as flechas da Morte, que estavam espalhadas no solo da caverna.
Eram tão parecidas que Eros não conseguia distingui-las.
No entanto, ele sabia quantas flechas tinha consigo e ajuntou a quantia certa.
Naturalmente, Eros levou algumas flechas que pertenciam à Morte e deixou algumas das suas.
E é assim que vemos, frequentemente, os corações dos velhos e dos moribundos, atingidos pelas flechas do Amor, e às vezes, vemos os corações dos jovens capturados pela Morte (apud KOVÁCS, 1992, p. 149).

Então, talvez, Thánatos pode libertar Eros de sua submissão à propriedade privada e aos bens de consumo. A esse respeito, Morin (2007, p. 181) cita uma célebre frase de Hölderlin: “onde cresce o perigo, cresce também o que salva”. O perigo da destruição pode levar à mudança de nossas ações, atitudes e pensamentos em relação à natureza e ao próprio Ser Humano. Morin vê na ameaça da morte a possibilidade de um novo motor de transformação; segundo o autor: “O Grande Motor não poderá ser outro que o medo do suicídio” (1997, p. 131). O suicídio, de que nos fala Morin, é o suicídio da própria humanidade, ou seja, ela mesma está procurando a morte, o fim. A morte iminente pode conscientizar a humanidade. O medo do fim pode fazer com que repensemos os atuais problemas e busquemos novas formas de organizações sociais e alternativas de transformação da natureza.
Edgar Morin faz uma alusão a uma expressão de Hegel[28], presente no Prefácio de Princípios da Filosofia do Direito, em que o filósofo alemão compara a Filosofia com a coruja de Minerva que levanta voo, somente ao entardecer, ou seja, o ser humano necessita de um tempo para captar o real. Para Morin, o entardecer já se foi, isto é, os resultados e consequências do modelo de organização social e produção estão afetando de forma direta a humanidade; por isso, se faz necessário anunciá-los a fim de encontrar e construir os caminhos para a transformação. Segundo Morin:
Atualmente, não só estamos no momento crepuscular quando o pássaro de Minerva, ou seja, a sabedoria, levantava vôo, mas também num momento de trevas, aguardando pelo canto do galo que vai nos acordar. O canto do galo vai nos deixar alerta para o homem, para a vida e para a humanidade. E, mesmo que nossos alarmes se revelem exagerados, terão sido úteis porque terão permitido implantar os meios que possibilitam afastar ou reduzir o perigo. Se os troianos tivessem dado ouvidos a Cassandra, suas profecias não se teriam realizado porque o aviso teria sido legítimo (2005a, p. 125).
Edgar Morin, a partir dessa estrutura dialógica (Eros e Thánatos), fundamentará os conceitos de Ética e Política de Civilização. Encerramos, com esta poesia, sobre a dialogia entre as duas pulsões, que pretendemos ser ela esperançosa.
Eros e Thánatos: Vida e Morte

Pra que viver?
Lutar pra quê?
Por que sofrer?

A natureza pede a morte,
que traz o descanso,
e nos devolve,
ao lugar de paz e harmonia.

A vida surge da rebeldia,
da luta contra o natural,
e nasce, cresce e reproduz,
à custa de tantas outras vidas.

Às quais,
damos a morte,
e elas, em troca...
a vida.

Nós somos
ao mesmo tempo,
inimigos e parceiros da morte.

Vivemos, enfrentando-a,
mas nessa curta batalha,
entregamos-lhe tantos outros combatentes.

Quanta dor!
Quanto sofrimento!

Melhor não seria...
se um Tratado de Paz assinássemos?
Nunca mais nos enfrentaríamos.

Pra que a teimosia?
Infantilidade?
Medo?
Qual é a explicação?

Por que a vida é Bela!
E de tão bela,
nos cativa.

Vivemos em busca de sua beleza,
que com prazer nos retribui,
a fim de gerarmos mais vida.

Ela só tem graça,
ao querermos mais vida.
E é ela própria o sentido da vida,
que só por ela mesma se explica.

Viver de verdade é ser brigão.
Brigar por vida,
contra todas as forças de morte.

É devolver o sorriso da criança,
encher o estômago do faminto,
aconchegar o desabrigado.

Assim quando não tivermos mais vida,
alimentaremos outras tantas,
e venceremos a infinita batalha,
pois afirmaremos, no final, a vida.

(Wilson Horvath)
O ser humano é simultaneamente 100% biológico e 100% cultural. A cultura nasce devido a nossa estrutura biológica e a nossa organização biológica é resultado de nossa cultura. Logo, não existe uma sem a outra.
O real, a natureza, a biosfera é para o humano uma duplicação ocorrida no nível da noosfera (mundo cultural). Por isso, nós vivemos um paradoxo em relação à noosfera, pois é, através dela, que percebemos a realidade e nos comunicamos com ela; mas devido a essa realidade, nos cegamos para aquilo que ultrapassa o seu campo de visão.
A noosfera, construída a partir das transformações que originaram e consolidaram o pensamento moderno, deu ao ser humano a ideia de que seria possível, por meio do uso correto da razão e da empiria, controlar a natureza e o progresso socioeconômico. E a partir do destronamento do Deus judaico-cristão, que propunha o Paraíso em uma vida pós-morte, o mito da felicidade foi perseguido para ser vivido neste mundo. E, assim, os bens de consumo se tornaram sinônimos de felicidade.
A ideia de felicidade e a crença na ciência moderna fizeram o ser humano estabelecer ações destrutivas contra a biosfera e contra si próprio, pois teve a sua vida escravizada pela produção. O desejo de consumo exige um aumento da produção, por meio do desenvolvimento de novas técnicas, que geram mais e novos bens de consumo que, por sua vez, despertam novos desejos.
O socialismo real, que seria uma das saídas ao modelo capitalista, praticamente se extinguiu, o que provocou um abalo nas propostas de transformação de muitos intelectuais e militantes, em especial, os que não pertenciam ao bloco socialista e, devido a esse fato, desconheciam ou não consideravam o totalitarismo presente nesse regime.
A atual crise ecológica e as mazelas oriundas do sistema capitalista despertam outra vez o surgimento de novas propostas de transformação, entre as quais as propostas de Ética e Política de Civil, apresentadas por Edgar Morin, e que veremos no próximo capítulo deste trabalho.
O medo da morte da humanidade ou o pavor do suicídio coletivo, que cada vez mais se aproxima, pode fazer com que mudemos o nosso modo de pensar e agir, pessoal e coletivo, e construamos um novo mundo e um novo ser humano.


[1]O Capitalismo atinge praticamente todos os cantos do planeta e estabelece o seu modelo de produção, exploração e destruição. Assim, por exemplo, uma hidrelétrica é construída em terras indígenas ou de pequenos camponeses, expulsando-os de suas moradas. Uma indústria, atrás de mão de obra barata, se estabelece em um país pobre, de cultura agrícola, e suga dos trabalhadores e do meio natural a força de produção e matérias-primas necessárias para a industrialização, desrespeitando os direitos humanos e degradando a natureza.
Marx e Engels, a esse respeito, dizem: “Pela exploração do mercado mundial a burguesia imprime um caráter cosmopolita à produção e ao consumo em todos os países. Para desespero dos reacionários, ela retirou à indústria sua base nacional. As velhas indústrias nacionais foram destruídas e continuam a sê-lo diariamente. São suplantadas por novas indústrias, cuja introdução se torna uma questão vital para todas as nações civilizadas, indústrias que não empregam mais matérias-primas autóctones, mas sim matérias-primas vindas das regiões mais distantes, e cujos produtos se consomem não somente no próprio país, mas em todas as partes do globo. Em lugar das antigas necessidades, satisfeitas pelos produtos nacionais, nascem novas necessidades, que reclamam para sua satisfação os produtos das regiões mais longínquas e dos climas mais diversos. Em lugar do antigo isolamento de regiões e nações que se bastavam a si próprias, desenvolvem-se um intercâmbio universal, uma universal interdependência das nações. E isto se refere tanto à produção material como à produção intelectual” (2009, p. 58).
[2] Conferir: BULFINCH, 2000, p. 19 – 26.
[3] Conhecimento Técnico ou Técnica, que deriva da palavra grega téchne (τέχνη), é o conhecimento prático; uma habilidade, destreza ou arte com vista a um Telos (τέλος) determinado. Assim, por exemplo, a técnica da medicina é curar as doenças; a técnica do pintor é a produção de suas telas.
[4] A concepção moriniana do “mundo das ideias” difere da concepção platônica. Para o filósofo grego, o Mundo das Ideias ou Hiperurânio é a região onde se encontram as ideias perfeitas, eternas e imutáveis; essas existem por si e são independentes do pensamento humano. Para o filósofo francês, o mundo das ideias é uma criação humana, uma duplicação do real; elas, uma vez criadas, possuem vida independente de seu criador; porém, sem o humano, elas não existiriam.
[5] Umbanda é uma religião afro-brasileira. Sua origem se dá a partir da vinda dos negros escravos para o Brasil. Esses que foram separados de suas famílias e tribos e escravizados com escravos oriundos de outras tribos africanas. Na África, cada tribo cultuava apenas um ou número reduzido de Orixás; porém, ao viverem juntos nas senzalas, houve o sincretismo religioso desses Orixás, acrescido dos Santos e do Deus católicos formou-se a Umbanda.
[6] Espiritismo: Doutrina religiosa que se crê ser possível a comunicação com os mortos e a migração das almas, o que torna possível a reencarnação, que é a encarnação de uma alma que já viveu aqui voltar em um novo corpo. Um dos grandes expoentes do espiritismo foi Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804 – 1869) que adotou o pseudônimo de Allan Kardec.
[7] Cristianismo Pentecostal: O nome remete à descida do Espírito Santo – Terceira Pessoa da Trindade, segundo a doutrina cristã – uma marca característica do pentecostalismo é a glossolalia, em que o fiel acredita estar falando em línguas diferentes, a língua dos anjos.
[8] Segundo Karl Marx: “A miséria religiosa constitui ao mesmo tempo a expressão da miséria real e o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração e a alma de situações sem alma. A religião é o ópio do povo.
A abolição da religião enquanto felicidade ilusória dos homens é a exigência da sua felicidade real. O apelo para que abandonem as ilusões a respeito da sua condição é o apelo para abandonarem uma condição que precisa de ilusões. A crítica da religião é, pois, o germe da crítica do vale de lágrimas, do qual a religião é a auréola” (2005, p. 146).
[9] Morus em sua obra Utopia (1997), a partir de um imaginário relato de Rafael Hitlodeu, antigo marinheiro que fora companheiro de Américo Vespúcio e após a morte deste, continuou a viajar e, nestas viagens, descobriu a Ilha de Utopia. A cosmovisão dos moradores da ilha e sua organização social satirizam o modo de vida europeu do século XVI, em especial ao inglês, que paulatinamente deixava de ser medieval e se tornava burguês. Percebe-se claramente isso, ao lermos o momento em que desembarcou, na ilha, Rafael e os embaixadores presentes, eles usavam adereços de ouro, e isso causou risos nas crianças, pois, lá, as joias ou eram brinquedos de bebês ou o material usado para identificar os prisioneiros. Em Utopia, todos vivem felizes, não há propriedade privada – esta entendida por Morus como a fonte de todos os males – nem exploração do trabalho; as pessoas trabalham seis horas, por dia, e o restante do tempo, dedicam-se ao cultivo da arte, lazer, filosofia etc. E mesmo assim, eles conseguiam produzir além de suas necessidades, haja vista, que não havia ninguém sem trabalhar para sustentar, como ocorria na Inglaterra (nobreza, clero, forças armadas, comerciantes e burgueses). O governo é republicano e seus representantes saíam do povo e eram escolhidos tendo por referência sua experiência e sabedoria. As crianças são educadas, desde cedo, a não serem egoístas e a ver a felicidade geral maior que a individual. Morus ao imaginar sua ilha, sofre grande influência de Platão, mas ao contrário deste, a mudança ocorrida na ilha não foi por vontade do Rei Filósofo, e sim, do povo, ou seja, realizou-se de baixo para cima.
[10] A obra de Campanella antecede e alicerça muitos pontos da Filosofia Moderna, como: Descartes, Kant e Leibniz. Campanella era admirador de Galileu e, ao mesmo tempo, foi crítico à Filosofia Escolástica, dirigindo sua criticas a Aristóteles. Em sua obra Cidade do Sol (2002), o Filósofo reproduz a abolição da propriedade privada e o governo exercido pelo rei filósofo, conforme Platão. A originalidade de Campanella está na junção entre a Metafísica – está que deve governar, na figura do rei (Hoh) – e as ciências, exercida por um dos assistentes de Hohe Sin. Sin representa a Sapiência, responsável pelo estudo e aplicabilidade da astrologia, artes, gramática, matemática, medicina, política. Os outros assistentes são Pon (Potência, responsável pela defesa da cidade) e Mor (Amor, encarregado de garantir que a reprodução humana fosse saudável).
[11] O motor de transformação, proposto por Marx e Engels, que mudaria o modelo econômico capitalista para o socialista, é o proletariado. Segundo os filósofos alemães: “Mas a burguesia, porém, não forjou apenas as armas que representam sua morte; produziu também os homens que manejarão essas armas – o operariado moderno – os proletários” (2009, p. 61).
[12] Segundo Marx e Engels: “A mais-valia produzida pelo prolongamento da jornada de trabalho chamo de mais-valia absoluta; a mais-valia que, ao contrário, decorre da redução do tempo de trabalho e da correspondente mudança da proporção entre os dois componentes da jornada de trabalho chamo de mais-valia relativa” (1996, v.1, t.1, 431-2).
[13]Segundo Marx e Engels: “[...] O que de novo eu fiz, foi: 1.demonstrar que a existência das classes está apenas ligada a determinadas fases de desenvolvimento histórico da produção; 2.que a luta das classes conduz necessariamente à ditadura do proletariado; 3.que esta mesma ditadura só constitui a transição para a superação de todas as classes e para uma sociedade sem classes (…)” (1982, p. 554-5).
[14] O capitalismo está de pé e onipresente, nos quatro cantos do mundo, talvez porque a humanidade ainda não foi capaz de pensar um sistema melhor que ele. Mas, isso não significa que ele seja a melhor opção para a humanidade. Além dos fatores de destruição ambiental que apresentamos e opressão à vida particular das pessoas, nós podemos destacar o altíssimo número de famintos no mundo, os níveis de pobreza que vêm aumentando assustadoramente a cada ano. Os que não têm nem comida suficiente às suas necessidades, segundo Jacques Diout, diretor da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação), em 2007 eram aproximadamente 832 milhões de famintos, em 2008: 963 milhões, e em 2009 esse número passaria de um Bilhão.
[15] Conferir: BULFINCH, 2000, p. 59 – 62.
[16] A Idade Média é classificada pelos modernos como “Idade das Trevas”, denominação de cunho ideológico a fim de contrastar com as luzes trazidas pelo iluminismo.
[17] Duns Scotus questionou o principio medieval: filosofia ancilla theologiae est (a filosofia é serva da teologia), ou seja, ele questiona o fato de a reflexão filosófica estar submissa às verdades teológicas, devendo aquela servir apenas para a melhor compreensão dessa. Scotus afirma que as verdades católicas eram reveladas e, por isso, não poderiam ser compreendidas pela razão humana. Assim, a Filosofia deveria deixar de ser serva da teologia e seguir sua própria trajetória de reflexão, visando o que era humano e lógico.
[18] Guilherme de Ockham deu continuidade ao legado de seu mestre. Para o Doctor Invincibilis (doutor invencível, intitulação atribuída a Ockham) o ser humano é dotado de liberdade plena e essa não poderia ser obstruída por nenhum pensamento religioso essencialista – conforme o pensamento escolástico-medieval – mas deveria tomar suas decisões segundo a sua razão e a partir de fatos concretos e particulares. Ockham propôs que o conhecimento deveria ser intuitivo, ou seja, partir do particular, sensível, palpável para que atingir o universal; aqui, mais uma vez, Ockham esteve em oposição ao pensamento medieval, que pregava que o conhecimento deveria ser Dedutivo, ou seja, partir do Universal, das essências para chegar ao particular. A teoria do conhecimento proposta pelo Doctor Invincibilis ficou conhecida como: “Navalha de Ockham”, em que procura eliminar no processo de conhecimento tudo aquilo que não pertencia ao conhecimento sensorial, ou seja, procura eliminar os dogmas e a teologia católica. E propõe que, havendo dois caminhos para se chegar ao conhecimento, deve-se buscar aquele mais simples e de fácil acesso.
[19] O movimento renascentista intermediário entre o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna, iniciou-se por volta do final do século XIII indo até meados do século XVII. O termo renascença (renascentista e renascimento) se deu devido à mudança de foco da reflexão que deixou de ser teocêntrica para se tornar homocêntrica, ou seja, renasceu a preocupação com o ser humano, suas paixões, fraquezas, ideais, que se tornaram o centro dos trabalhos filosóficos, artísticos e científicos. O termo também se deu devido à redescoberta dos textos clássicos gregos, com características homocêntricas.
[20]A Igreja Católica no período moderno deixou de ser a possuidora única da verdade ou o depósito da fé (depositumfidei) exclusivo no Ocidente, conforme o fora no período medieval. Essa constatação não significa em nenhuma hipótese dizer que ela não tem poder de influenciar a vida política dos Estados. Porém a sua influência se dá de forma indireta; e a Igreja Católica divide o seu poder ideológico com outras instituições (igrejas de outros credos religiosos, mídia, movimentos sociais etc.).
[21]Segundo ABBAGNANO, O conceito de SUPER-HOMEM é: “O termo que se encontra em Luciano (Calciplits. 16) e que algumas vezes foi usado para designar o homem-Deus (= Cristo; v. 1'. TASSO. I.ettere, V. 6); foi empregado antes por Ariosto (Orl. Fm:. 38. 62) para indicar uma humanidade extraordinária. [...] Mas foi só com Nietzsche que esse termo assumiu significado filosófico e se tornou popular. O S. é a encarnação da vontade de potência: "O homem deve ser superado. O S. é o sentido da terra. [...] O homem é uma corda esticada entre o animal e o S.. uma corda sobre o abismo" (Alsosprcicb/.aratbuslra, I. 3). O S. é a encarnação dos valores vitais que Nietzsche contrapõe aos valores tradicionais; para Nietzsche. É o filósofo criador de valores, dominador e legislador, em oposição aos "operários da filosofia", como são comumente considerados [...] Apesar de o conceito nietzschiano não ter nenhum significado político preciso, acabou servindo de pretexto ao racismo e às concepções antidemocráticas em política. (2007, p. 933).
[22]A onipresença do Deus judaico-cristão se limitou, no período medieval, ao Ocidente, em especial, na Europa Cristã.
[23] Essa análise é contextual, ou seja, ela abarca até as duas primeiras décadas do terceiro milênio, haja vista que não é possível prever o futuro, segundo a Teoria da Complexidade. Assim, pode ser que, em um futuro próximo, um deus ou uma ideia-força reestabeleça o trono do deus-único. E esse exigirá que os seus seguidores faça novas inquisições, conforme fizeram os cristãos, os socialistas.
[24] A palavra Macartismo (em inglês McCarthyism) é derivada do nome do Senador norte-americano Joseph Raymond McCarthy (1908 – 1957), senador entre os anos 1947 e 1957 e grande articulador da perseguição àqueles, que, segundo o Senador, identificavam-se com os ideais comunistas. O macarthismo também é conhecido pelos termos: “Terror vermelho” (Red Scare) e “caça às bruxas”, uma alusão à perseguição das mulheres consideradas bruxas, pela Igreja Católica, no período medieval.
[25] Segundo Morin; Ciurana; Motta: “À crise de fundamentos, persistente no desenvolvimento da filosofia moderna, que se acelera e aprofunda durante todo o século XX, acrescenta-se a insuficiência da verificação empírica (Popper) e da verificação lógica (Göedel) nas ciências. Por outro lado, e paralelamente à travessia da crise de fundamento do conhecimento filosófico e do científico, a própria noção de realidade entra em crise através da “de-substanciação” da partícula elementar: crise ontológica. Essas três dimensões de uma mesma crise: a dos fundamentos do conhecimento, conduzem à crise do fundamento do pensamento. Não há certeza nem verdade fundadora. Não há causa última, não há última análise, não há verdade adequada nem explicação primeira. A conquista final da modernidade é a descoberta de que não existe nenhum fundamento certo para o conhecimento. Por esse motivo, é preciso advertir que o objeto conhecimento não pode ser um objeto como os outros, porque não serve apenas para conhecer os demais objetos, mas também para conhecer a si mesmo” (2003, p. 53).
[26] Os tratados sobre as diversas áreas das ciências foram escritos, na Idade Média, em geral, por membros do clero ou por pessoas ligadas a ele. Esses tratados são escritos dentro do pensamento religioso medieval; assim, os escritos sobre ciência são encontrados dentro de uma abordagem teológica, essa que serve de pano de fundo para as abordagens científicas, ora a reflexão parte da teologia para justificar a visão científica, ora parte da ciência para justificar a teologia. São exemplos desses tratados: De Civitate Dei (A Cidade de Deus) de Santo Agostinho (354 – 430); De consolatione philosophiae (A Consolação pela Filosofia) de Boécio (480 – 524); De divisione naturae (A Divisão da Natureza) de João Escoto Erígena (810 – 877); Speculum Maius (O Grande Espelho) do frade dominicano Vicente de Beauvais (1190 – 1264); De proprietatibus rerum (Livro das propriedades das coisas), do frei franciscano Bartolomeu Anglicus (1203 – 1272); Thesaurus Pauperum (Tesouro dos Pobres) de Pedro Hispano, Papa João XXI (1205? – 1277).
[27] Entendemos três conceitos de Barbárie, apresentados por Morin. Primeiro: A violência oriunda da ontologia dialógica do Ser Humano, que é ao mesmo tempo Sapiens (sábio, racional) e Demens (louco, delirante). “[...] as potencialidades, as virtualidades da barbárie aparecerem em todos os traços característicos da nossa espécie humana.” (MORIN, 2009, p. 14). Segundo: As barbáries que o socialismo procurou eliminar, são elas: “as barbáries de dominação e de exploração” (Idem, 1997, p. 32). Terceiro: que é a união dos dois primeiros, acrescidos da técnica. “[...] a ameaça mundial polimorfa que retoma e produz a aliança entre duas barbáries: a barbárie de destruição e morte, que vem do fundo das eras, e a barbárie anônima e fria do mundo técnico-econômico” (Idem, 2003, p. 72).
[28]Segundo Hegel: “Para dizer, ainda, mais alguma coisa, sobre a pretensão de ensinar como deve ser o mundo, lembramos que, em todo caso, a filosofia sempre vem muito tarde. Enquanto pensamento do mundo, aparece apenas quando a realidade completou e terminou seu processo de formação. O conceito ensina, a História o mostra com a mesma necessidade: é na maturidade dos seres que o ideal aparece em face do real e, após ter colhido o próprio mundo em sua substância, o reconstrói na forma de um império de idéias. Quando a filosofia chega em sua luz crepuscular ao anoitecer, uma manifestação da vida acaba de envelhecer. Não se pode rejuvenescê-la com o cinza sobre o cinza, mas apenas conhecê-la. Ao cair das sombras da noite é que alça vôo o pássaro de Minerva" (1997, p. 37).

Referências


ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Tradução: Ivone Castilho Benedetti. 5ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
AMORIM, Maria da Conceição de Melo. O humano em Edgar Morin: Contribuições para a compreensão da integralidade na reflexão pedagógica, 2003, 149f. Dissertação (Mestrado em Educação) UFPE, Recife, 2003.
Arendt, Hannah. A Condição Humana. Tradução: Roberto Raposo. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1981.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução: Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2006.
BARROS, Marcelo Donizete de. Ensino de Filosofia e Linguagem escrita: Contribuições da filosofia na formação do jovem contemporâneo brasileiro, 2009, 82f. Dissertação (Mestrado em Educação) USP, São Paulo, 2009.
BRASIL. Congresso Nacional. Casa Civil. Lei nº 11.684, de 2 de Junho de 2008: Altera o art. 36 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias nos currículos do ensino médio. Brasília: Casa Civil – Subchefia para Assuntos Jurídicos, 2008. Disponível em: . Acesso em: 30 jun. 2008.
BRASIL. Congresso Nacional. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996: Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004. (Coleção de Leis e Estatutos Brasileiros).
BRASIL. Ministério da Educação. Câmara de Educação Básica. Conselho Nacional de Educação. Parecer nº. 15 de 01 de junho de 1998. Assunto: Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Brasília: MEC/CNE, 1998. Disponível em: . Acesso em: 10 dez. 2007.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros curriculares nacionais para o ensino médio. Ensino Médio: Bases Legais Brasília: MEC/SEMTEC, 2000a. Disponível em: . Acesso em: 10 dez. 2007.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros curriculares nacionais para o ensino médio. Ensino Médio Brasília: Parte IV – Ciências Humanas e suas Tecnologias. MEC/SEMTEC, 2000b. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/cienciah.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2007.
BULFINCH, Thomas. O Livro de Ouro da Mitologia. 10ª edição. Tradução: David Jardim Junior. Rio de Janeiro: Ediouro, 2000.
Bukharine, N.; Preobrazhensky, E. ABC do Comunismo. Disponível em: . Acesso em 12 jan. 2012.
CAMPANELLA, Tommaso. A cidade do Sol. Tradução: Geny Aleixo Sallovitz. São Paulo: Ícone Editora Ltda., 2002.
CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação. Tradução: Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Editora CultrixLtda.,1982.
CASTRO, Maria da Consolação Gomes de. A construção do ethos de um líder sociocomunitário. Tese (Doutorado em Linguística e Língua Portuguesa) Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais: Belo Horizonte, 2009.
DELORS, Jacques. Educação, um tesouro a descobrir: Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. Brasília/São Paulo: Cortez/UNESCO/MEC, 1998. Tradução: José Carlos Eufrázio. Disponível em: . Acesso em: 16 mar. 2009.
DIOUF, Jacques. ONU: crise provoca fome em mais de 100 milhões. Disponível em: . Acesso em 26 mar. 2009.
DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Os Irmãos Karamazov. Tradução: Natália Nunes e Oscar Mendes. São Paulo: Abril Cultural, 1970.
ENGLES, Friedrich. A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado: Trabalho relacionado com as investigações de L. H. Morgan. 12ª edição. Tradução: Leandro Konder Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 1991.
FERNANDES, Florestan. A Revolução Burguesa no Brasil: Ensaio de interpretação Burguesa no Brasil. 2ª edição. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1976.
FUKUYAMA, Francis. O fim da História e o último homem. Tradução: Aulyde Soares Rodrigues. Rio de Janeiro: Rocco, 1992.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17 edª. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
HEGEL, Georg. W. F. Introdução à História da Filosofia. In: Hegel. Tradução: Orlando Vitorino. São Paulo: Nova Cultural, 1996 (Coleção Os Pensadores).
_____________. Princípios da Filosofia do Direito. Tradução: Norberto de Paula Lima. São Paulo: Ícone, 1997.
HESÍODO. Teogonia: A origem dos deuses. 3ª edição. Estudo e tradução de Jaa Torrano. São Paulo: Iluminuras, 1995.
HEIDEGGER, Martin. O que é isto – a filosofia? Identidade e diferença. Tradução, introdução e notas de Ernildo Stein. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1971.
HERÁCLITO. Fragmentos. In: Os Pré-Socráticos. Tradução: José Cavalcanti de Souza et al. São Paulo: Abril Cultural, 1989 (Coleção Os Pensadores).
JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 3ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.
LuxemburgO, Rosa. Reforma ou Revolução. Disponível em: . Acesso em: 02 jan. 2012.
KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Tradução: Manuela P. dos Santos e Alexandre F. Morujão. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1989.
_____________. Resposta à pergunta: O que é o Iluminismo? (1784). 70ª ed. In: KANT, I. A paz perpétua e outros opúsculos. Tradução: Artur Morão. Lisboa: 1989.
KOVÁCS, Maria Júlia. Morte e desenvolvimento humano. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1992.
MAGALHÃES, Edson Sendin. Ética na perspectiva de Edgar Morin, 2009, 292f. Tese (Doutorado em Filosofa) UGF, Rio de Janeiro, 2009.
MARX, Karl; ENGLES, Friedrich. Crítica da Filosofia do Direito de Hegel. Tradução: Raul Mateos Castell. São Paulo: Boi Tempo, 2005.
_____________. Manifesto do Partido Comunista. Tradução: Antônio Carlos Braga. 2ª edição. São Paulo: Editora Escala, 2009.
_____________. O Capital: crítica da economia política, Livro 1. (O Processo de Produção do Capital), v. 1. Tradução: Tradução de Regis Barbosa e Flávio R. Kothe. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
_____________. O Capital: crítica da economia política, Livro 1. (O Processo de Produção do Capital), v. 2. Tradução: Tradução de Regis Barbosa e Flávio R. Kothe. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
_____________. Teses contra Feuerbach. In: MARX, Karl. Manuscritos econômico-Filosóficos e Outros Textos Escolhidos. (Coleção Pensadores, nº XXXV). Tradução: José Arthur Giannotti. São Paulo: Abril, 1974.
MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia, Tomo IV (Q – Z). Tradução: Maria Stela Gonçalves, et. al. 2ª edição, Loyola: São Paulo, 2001.
MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Tradução: Eloá Jacobina. 8ª edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
_____________.Ciência com consciência. Tradução: Maria D. Alexandre e Maria Alice Sampaio Dória. 8ª edição. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005a.
_____________.Cultura e barbárie européias. Tradução: Daniela Cerdeira. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.
_____________. Cultura de Massas no século XX: vol. 1. Tradução: Maura Ribeiro Sardinha. 3ª edição. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1975.
_____________. Cultura de massas no século XX. vol. 2. Tradução: Maura Ribeiro Sardinha. 2ª edição. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1986.
_____________. Da necessidade de um pensamento complexo. In: Francisco Menezes Martins e Juremir Machado da Silva (org), Para navegar no século XXI. Porto Alegre: Sulina/Edipucrs. 2003.
_____________. O Método 1: A natureza da natureza. Tradução: Maria Gabriela de Bragança. 2ª edição. Lisboa: Publicações Europa-América, 1977.
_____________.O método 4: As idéias. Tradução: Juremir Machado da Silva. 4ª edição. Porto Alegre: Sulina, 2008.
_____________.O método 5: a humanidade da humanidade. Tradução: Juremir Machado da Silva. 3ª edição. Porto Alegre: Sulina, 2005b.
_____________.O Método 6: Ética. Tradução: Juremir Machado da Silva. 3ª edição. Porto Alegre: Sulina, 2007.
_____________.Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução: Catarina Eleonora F. da Silva, Jeanne Sawaya. 2ª. Edição. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2000.
_____________. Para além do Iluminismo. Tradução: Juremir Machado da Silva. In: Revista FAMECOS. Porto Alegre, nº 26, abril 2005c.
_____________.Para onde vai o mundo? Tradução: Francisco Moras. Petrópolis: Vozes, 2010.
_____________;Ciurana Emilio-Roger; Motta, Raúl. EDUCAR NA ERA PLANETÁRIA: O pensamento complexo como Método de aprendizagem no erro e na incerteza humana. Tradução: Sandra Trabucco Valenzuela. São Paulo: Cortez, 2003.
_____________; KERN, Anne Brigitte. Terra-Pátria. Tradução: Paulo Neves. 3ª edição. Porto Alegre: Sulina, 2000.
_____________; NAÏR, Sami. Uma Política de Civilização. Tradução: Armando Pereira da Silva. Coleção: Economia e Política. Lisboa – Pt: Instituto Piaget, 1997.
MORUS, Tomás. A Utopia. Coleção: L&PM Pocket. Tradução: Paulo Neves. Porto Alegre: L&PM, 1997
NADALIM, Carlos Francisco de Paula. Por uma Propedêutica Poética no Ensino de Filosofia para Crianças e Jovens, 2009, 132f. Dissertação (Mestrado em Educação) UEL, Londrina, 2009.
NIETZSCHE, Friedrich W. A Gaia Ciência. Tradução: Paulo César de Souza. 2ª edição. São Paulo: Companhia das letras, 2001.
NOVAES, Adauto (org.). O Silêncio dos Intelectuais. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
ORWELL, George. 1984. Tradução: Wilson Velloso. 11ª edição. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1978.
PAIVA, Carlos Roberto. O Ensino de Filosofia no Ensino Médio: que filosofia?, 2007, 192f. Dissertação (Mestrado em Educação) PUC-SP, São Paulo, 2007.
Parmênides. Fragmentos. In: Os Pré-Socráticos. Tradução de José Cavalcanti de Souza et al. São Paulo: Abril Cultural, 1989 (Coleção Os Pensadores).
PECHULA, Marli Aparecida. A filosofia no ensino médio: da importância anunciada a descaracterização praticada, 2001, 147f. Dissertação (Mestrado em Educação) UNICAMP, Campinas, 2001.
PENA­VEGA, Alfredo; ALMEIDA, Cleide; PETRAGLIA, Izabel (orgs.). Edgar Morin: ética, cultura e educação. 2ª edição. São Paulo: Cortez Editora, 2003.
PETRAGLIA, Izabel. “Olhar sobre o olhar que olha”: complexidade, holística e educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
PLATÃO. A República. 4ª edição. Tradução: Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1949.
_____________. Ménon ou Da Virtude. 3ª edição. Tradução: A. Lobo Vilela. Lisboa: Editoral Inquérito Limitada, 1986.
_____________. O Banquete. In: Platão. 5ª ed. Tradução de José Cavalcanti de Souza et al. São Paulo: Abril Cultural, 1991 (Coleção Os Pensadores).
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Antigüidade e Idade Média. Vol. I. 6ª edição. Coleção: Filosofia. São Paulo: Paulus, 1990.
RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro: A Formação e o Sentido do Brasil. 2ª edição. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
RIOS, Terezinha Azerêdo. Compreender e ensinar: por uma docência da melhor qualidade. São Paulo: Cortez, 2001,
_____________.Ética e Competência. 20ª edição. São Paulo: Cortez, 2011.
ROMÃO, Arquilau Moreira. A filosofia no ensino médio como questionamento histórico existencial, 2003, 226f. Dissertação (Mestrado em Educação) UNICAMP, Campinas, 2003.
SANTOS, Claudio Ferreira. Os desafios do ensino de filosofia na sociedade atual, 2009, 148f. Dissertação (Mestrado em Educação) UNINOVE, São Paulo, 2009.
SANTOS, Gilberto Dias dos. Papel da Filosofia na Formação do Jovem do Ensino Médio à Luz do Pensamento de Antônio Joaquim Severino e Edgar Morin, 2009, 77f. Dissertação (Mestrado em Educação) UNINOVE, São Paulo, 2009.
SAVIANI, Dermeval. Pedagogia Histórico – Crítica: Primeiras Aproximações. 10ª ed. rev. Campinas: Autores Associados, 2008.
SEIXAS, Raul. Por Quem Os Sinos Dobram. In: Raul Seixas. Por Quem Os Sinos Dobram, faixa5, n. 5156916 (33912) Warner,1979.
SILVA, Helcio José dos Santos. Afetividade e aula de filosofia: um estudo com alunos do ensino médio de uma escola pública paulista, 2008, 126f. Dissertação (Mestrado em Educação) PUC-SP, São Paulo, 2008.
SMITH, Adam. A riqueza das Nações: Investigação sobre sua natureza e suas causas. Tradução: Luiz João Baraúna. São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda, 1996.
STANGUE, Fábio Antúlio. O Filosofar na sala de aula: Elementos para uma discussão metodológica sobre as diferentes dimensões de objetivação espaço-temporal entre professor/aluno na proposição e tratamento de conteúdos filosóficos no Ensino Médio, 2009, 178f. Dissertação (Mestrado em Educação) UFPR, Curitiba, 2009.
SCHWANTES, Milton. Projetos de Esperança: Meditações Sobre Gênesis 1 – 11. Coleção Deus Conosco. Vol. 2. Co-edição: Vozes e Editora Sinodal. Petrópolis: Vozes, 1989.
TRADUÇÃO ECUMÊNICA DA BÍBLIA (TEB). 3ª Edição. Tradução: Gabriel C. Galacheet al. São Paulo: Loyola/Paulinas, 1995.
VESENTINI, José William. Para uma Geografia Crítica na Escola. São Paulo: Editora do Autor, 2008.
XENOFONTE. Apologia de Sócrates. In: Sócrates. Traduções: de Jaime Bruna, Libero Rangel de Andrade, Gilda Maria Reale Strazynski. São Paulo: Nova Cultural, 1987.

Nenhum comentário:

Postar um comentário