Wilson Horvath
Joseph Ratzinger, o Papa Bento XVI, em plena festividade de Carnaval, diante das câmeras, surpreendeu o mundo ao renunciar o papado, alegando não ter mais forças físicas e espirituais para permanecer à frente do comando da Igreja Católica.
O motivo real que levou o Sumo Pontífice tomar essa decisão talvez nunca venha à tona, então resolvi escrever essas suposições que podem ser totalmente irreais, mas elas também podem ter alguma verdade, mesmo que seja muito distante do que fato aconteceu
.
Começamos
pela escolha dessa data. Ela talvez, não tenha se dado ao acaso. A palavra
carnaval é proveniente do latim, formada por carnis = carne e vale =
adeus, e quer dizer “festa de despedida da carne”. Ao escolhê-la, ele pode
estar fazendo uma alusão ao adeus e à retirada de cena de sua pessoa física à
clausura, tal como se estivesse realmente morto, deixando ao mundo apenas a
memoria de Bento XVI.
Ratzinger,
um dos maiores intelectuais do tempo presente, criou, assim como todos nós
criamos, uma persona, que é o modo de
ser e se comportar no mundo, que após a sua coroação no trono petrino, ganhou a
forma plena na figura de Bento XVI.
Acredito
que Ratzinger não seja um homem mau, ao contrário ele é uma pessoa boa, que
buscou a santidade. Os seus ex-alunos afirmam que ele era amigável, de fácil
acesso, que dividia o seu salário com os pobres.
E
quem foi Bento XVI? A melhor maneira de ser, o modelo autêntico de ser cristão
encontrado por Ratzinger, o qual ele buscou se tornar, ao longo de sua vida. Assim,
Bento XVI era nas palavras do próprio Ratzinger, ditas em sua primeira aparição
ao público, como Sumo Pontífice: “um humilde trabalhador na vinha do Senhor
[Jesus]”.
E
como foi criada e elaborada a persona
de Bento XVI? Ratzinger acreditou que o verdadeiro cristão deveria seguir
piamente a tradição eclesiástica católica. Por isso, desde cardeal, ele foi um
implacável inquisidor, combatendo todos aqueles, que em sua visão, desviavam da
fé católica. E como papa procurou implantar a grande disciplina a fim de trazer
novamente o modelo medieval de Igreja.
Bento
XVI buscou frear o movimento eterno de mudanças, o devir-a-ser. E adequar as
transformações ocorridas no mundo moderno dentro da camisa de força dos dogmas
católicos. Tudo o que fugiu de sua cosmovisão foi classificado como algo
relativo, relativismo. Ou, o que é pior, foi demonizado!
E
Ratzinger viu o seu modelo de ser cristão falhar, a volta da grande disciplina
não melhorou a Igreja, ao contrário, escândalos de corrupção e pedofilia,
envolvendo padres e bispos, caíram no colo do Pontífice.
A
volta ao passado esvaziou as igrejas na Europa, pois ela não responde mais às
necessidades europeias. O mesmo não ocorreu na América Latina, pois nem de
longe, a Igreja segue os ditames do Vaticano, o pentecostalismo, que possui
matriz africana e indígena, garante a continuidade dos fieis.
Homossexuais,
casais separados e que se casavam novamente foram excluídos da Igreja, bem como
aqueles que lutam politicamente por
um mundo melhor e mais justo. Ele não aceitou os métodos contraceptivos nem o
auxilio da medicina a fim que mulheres engravidem.
Porém
é impossível frear as mudanças. Por mais que se tente, elas ocorrerem. E
atualmente, é dificílimo encontrar uma família em que ao menos um de seus
membros não tenha assumido a homossexualidade ou que não tenha alguém casado
novamente.
E
grande parte do clero é composta por homossexuais (isso de maneira nenhuma é
uma crítica!) celibatários ou atuantes às escondidas. Clérigos heterossexuais
possuem famílias ou vivem sofrendo devido à necessidade de uma companheira.
Talvez
a maior dificuldade de percepção e autoanálise é perceber que estamos fazendo o
mal enquanto acreditamos que estamos fazendo o bem. Pois isso implica
questionar e destruir tudo aquilo que acreditamos ser verdadeiro.
Bento
XVI é incapaz de realizar tal façanha. Porém o intelectual Ratzinger pode
fazê-lo. Vejamos o que diz parte de sua carta de renuncia:
[...] Convoquei-vos para este
consistório [...] para vos comunicar uma decisão de grande importância para a
vida da Igreja. Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência
diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade
avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino [...].
Todavia,
no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande
relevância para a vida da fé,
para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também
o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi
diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para
administrar bem o ministério que me foi confiado [...].
Caríssimos irmãos, verdadeiramente de
coração vos agradeço por todo o amor e a fadiga com que carregastes comigo o
peso do meu ministério, e peço perdão
por todos os meus defeitos [...]” (grifo nosso).
O
papa menciona as mudanças do mundo contemporâneo e a rapidez que elas se dão. Porém
são elas que ele procurou, ao longo de sua vida, evitar e frear ou as
demonizou.
Será
que as mudanças no mundo contemporâneo fizeram Bento XVI renunciar? Será que
ele percebeu que sua luta para contê-las foi em vão? Será que ele constatou que
a sua luta não trouxe o bem, mas o sofrimento para as pessoas, para os
homossexuais, para os casados de segunda união, para as mulheres que não podem
engravidar?
Se
assim for, o Espírito soprou nos ouvidos de Ratzinger. O Espírito sempre sopra
trazendo o novo e promovendo uma revolução cultural.
Espero
que o mesmo Espírito ilumine a escolha do novo Papa, que ele seja aberto as
mudanças trazidas pelo indeterminado. E desejo tudo de bom a Ratzinger, que
mesmo diante de seu conservadorismo foi bem melhor que seu antecessor.
Uma análise consistente e fundamentada, muito bom! Renato Tim.
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