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quarta-feira, 31 de julho de 2019

Mito: O que é?

Este texto trabalha a definição de Mito usada nas ciências humanas como forma de conhecimento, talvez a mais antiga presente na humanidade.



Prof. Wilson Horvath

A palavra “Mito” é polissêmica, assim ela tem vários significados e pode ser usada de diferentes maneiras. Ela pode significar mentira, por exemplo: “Leite com manga não mata, isso é um mito”. Pode se referir a alguma grande personalidade, neste caso: “Ayrton Senna é um mito nacional”.
No entanto, dentro da filosofia, antropologia e ciências afins, entendemos o Mito como uma maneira de explicar a realidade, uma forma de conhecimento específica que recorre a elementos simbólicos, a arquétipos. E sempre em sua narrativa estarão presentes elementos sobrenaturais.
O mito é a forma de conhecimento mais antiga que há; talvez já presente na cultura de nos nossos passados hominídeos desde o aparecimento da linguagem, em que os deuses, espíritos determinavam normas de conduta, formas de alimentação, remédios, etc.
O mito explica a realidade sem utilizar nem a ciência, nem a razão, essas duas são outras formas de conhecimento da realidade, mas isso não quer dizer que esta forma de conhecimento seja mentirosa; ao contrário, o mito é uma verdade!, mas uma verdade mitológica, que não depende de provas racionais e empíricas.
Assim, pensemos em uma planta que pode curar determinada doença; os cientistas estudam e apresentam os princípios ativos presentes nela; enquanto o mito apresentará essa planta como um presente dos deuses.
Observe: são duas formas de conhecimento diferentes, mas ambas chegam a resultados muito parecidos. É claro que o pensamento mitológico pode estar errado, mas a ciência também pode.
Vejamos outro exemplo, eu posso não mentir ou não matar alguém, pois por meio do uso a razão controlo meus instintos; e tendo como premissa a dignidade humana, conforme raciocinou Kant[1], ou posso fazer o mesmo (dizer a verdade e não assassinar) pois um deus assim mandou. Novamente, temos que conclusões parecidas entre duas formas de conhecimento distintas.
A principal diferença do pensamento mitológico das outras formas de conhecimento é que ele independe de provas empíricas, ninguém precisa ver um deus ou um espírito para ter certeza de suas vontades. A outra é que o mito não se preocupa com a contradição, assim ele pode dizer algo em um momento e em outro algo diferente, até oposto.
O mito sempre traz um ensinamento (conduta, prescrições, interdições) de uma instância sobrenatural (Céu, Monte Olímpio, Mundo dos Mortos, etc.) e essas verdades são inquestionáveis, eternas. Ele sempre trará uma explicação definitiva acerca de algo seja o ser humano, seja um fenômeno natural.
Mesmo que outra pessoa possa apresente outra versão do mito, ela não estará questionando a primeira narrativa, mas apresentando de outra forma a mensagem do mundo sobrenatural. Lembre-se: o mito não se preocupa com a contradição.
E quem narra o mito é alguém escolhido pelos deuses ou pelos espíritos, não é qualquer pessoa, apenas aqueles que podem se comunicar com o mundo sobrenatural e apresentar suas verdades ao demais, como os sacerdotes ou médiuns.
Na Grécia Antiga era mito era narrado pelo Poeta-Rapsodo (ραψῳδός), artista popular ou cantor que, ia de cidade em cidade, recitando poemas, principalmente as epopeias, tais como a Ilíada e a Odisseia, em que apresentavam histórias de deuses e heróis.







[1] “Segundo o conceito do dever necessário para consigo mesmo, o homem que anda pensando em se suicidar indagará a si mesmo se a sua ação pode estar de acordo com a idéia da humanidade como fim em si mesma. Se, para fugir a uma situação penosa, se destrói a si mesmo, serve-se ele de uma pessoa como de um simples meio para conservar até ao fim da vida uma situação tolerável. Mas o homem não é uma coisa; não é, portanto, um objeto passível de ser utilizado como simples meio, mas, pelo contrário, deve ser considerado sempre em todas as suas ações como fim em si mesmo. Não posso, pois, dispor do homem em minha pessoa para o mutilar, degradar ou matar” (KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes e outros escritos, tradução de Leopoldo Holzbach, São Paulo: Martin Claret, 2004, p. 59).

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