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terça-feira, 18 de junho de 2013

0,20 centavos? Uma breve reflexão filosófica sobre as manifestações contra o aumento das passagens do transporte público

Wilson Horvath
As manifestações contra o aumento das passagens do transporte público, ocorridas nas maiores cidades brasileiras, no iniciada em junho de 2013, foram a maior demonstração de cidadania e democracia deste milênio no país, pois, além do altíssimo número de participantes, resgatam a esperança de que “o sonho não acabou!” e revelam uma juventude ansiosa por construir um mundo melhor.



Os protestos provavelmente fizeram o velho filósofo grego Sócrates (469 – 399 a.C) festejar no Hiperurânio, ao ver que jovens de traços belos e cheios de vitalidade compõe a maioria dos manifestantes, incluindo os membros da organização desses eventos. E saber que eles ocuparam a ruas e praças públicas – a ágora (ἀγορά) – usada anteriormente pelo próprio filósofo para ensinar Filosofia e questionar a moral e os costumes de seu tempo.
A boniteza da juventude cativou e rejuvenesceu os mais velhos, destes muitos militaram no passado e há muito tempo tinham perdido a adrenalina geradora e gerada no movimento social; outros nunca haviam levantado uma bandeira nem protestado por qualquer causa.
A beleza do movimento também é percebida na quantidade de pessoas, milhares de pessoas reunidas formam a unidade da manifestação, um todo orgânico em prol da redução do preço da passagem. E, ao mesmo tempo, cheio de diversidade, contando com membros de diferentes profissões e classes sociais; brancos, índios, negros, pardos; heteros e homossexuais; crentes e ateus; católicos, protestantes, pentecostais, kardecistas, candomblecistas.

O movimento se construí e reconstruí por si, livremente, alimentado pelo sentimento de indignação social contra o aumento da passagem e o péssimo serviço prestado pelo transporte público, mas também por descontentes pelo estado que se encontra a saúde, a educação, a corrupção, o modelo de vida atual.
A Alegria é apresentada como o elemento chave para promover a aglutinação. Aqueles que passavam próximo as manifestações são convidados e/ou se auto-motivavam para a adentrar no movimento por músicas, cartazes, sorrisos no rosto, palavras de ordem. E, junto com os demais membros, caminhavam e protestavam indignados, mas alegres.
Diferentemente dos movimentos sociais do passado, não houve doutrinamento ideológico ou religioso, nem o aparelhamento promovido por um partido político. Talvez, podemos identificar nessas ondas de manifestações o que o filósofo alemão Schopenhauer (1788 - 1860) chamou de “Vontade de Potência”.
Estes movimentos tem muito para ensinar aos antigos grupos de representação social, tais como: sindicatos, partidos políticos, ONGs. Tomemos como exemplo uma greve dos professores. Nela, os representantes são os mesmos de sempre ou afilhados daqueles. E quantas pessoas ela consegue juntar? O que de real consegue?
Ou tente conversar com um membro dos partidos da extrema-esquerda. Se você não aceitar tudo o que ele dizer, não deixá-lo fazer a sua cabeça; muito provavelmente, você terá vontade de bater, pois estará com uma pessoa extremamente arrogante, míope social e ainda por cima, que se acha a “última bolacha do pacote”.
A força do movimento está no poder tornar o movimento sistêmico, de criar sinergia entre os participantes. E não torna-lo sistemático e pré-programado por alguma ideologia. De acordo Edgar Morin:
Mais importante que todos os planos e projetos serão os processos diversos que formam a síntese de uma força coletiva que contém os fins, as esperanças e os desejos do conjunto dos indivíduos concernidos e que vão no sentido da sua sinergia (Política de Civilização, p.148).

Com a Graça do bom Deus, nos é impossível saber os resultados destas manifestações, ninguém tem uma bola de cristal! O certo é que por hora, as forças políticas da direita mudaram o discurso e a atuação frente aos movimentos. Os velhos meios de comunicação de massas cessaram os discursos recriminatórios; a polícia parou de reprimir à força ou está fazendo em menor intensidade.
É evidente que a direita escrota procurará se apropriar oportunamente das manifestações e jogá-lo contra a frágil esquerda, que a passos "curtos" busca o crescimento social do país.
Mas mesmo assim devemos apoiá-los! Devemos fazer uma aposta que eles conseguiram o melhor, mesmo sem as certezas de seu êxito.
E ademais, segundo Aristóteles (384 – 322 a.C.): “a política é a arte de conciliar, manter o equilíbrio entre as forças opostas”. As empresas privadas que prestam transporte público exercem fortes influências na política. Há lobistas profissionais para tal.
Os bons políticos precisam se alicerçarem na força dos movimentos para conseguirem vencer a batalha contra os lobismo empresarial, pois muitas pessoas lucram com ele, em especial de forma ilegal e corrupta. Eles precisam estar com o povo contra a velha oligarquia do país, que sugou o Brasil e o povo brasileiro, nos primeiros 500 anos de sua dominação.
Em São Paulo, SP, por exemplo: o aumento foi de 0,20 no preço da passagem e mais 0,20 centavos na integração (ônibus – metro). Assim, o preço da passagem é $ 3,20, e se faz a integração paga mais $ 1,85, o que dá: $ 5,05. Ida e volta: 10,10. E ao longo de um mês: $ 303, quase a metade de um salário.
Os movimentos em sua gênese são pacíficos, porém há alguns que praticam o vandalismo. Mas é preciso separar o joio do trigo. Quem são eles? Primeiro, se o próprio Estado, de antemão, agredi, o direito de defesa é garantido. Segundo, a extrema-direita sempre se infiltra em movimentos sociais para sabotar a legitimidade das reivindicações. E a extrema-esquerda faz o mesmo, mas sem consciência histórica, eles acham que estão fazendo o correto. Por isso é preciso averiguar!
O certo é que o movimento é legitimo! Revolucionário! Belo! Lindo!

Abraços! E nos encontramos em alguma manifestação!

Um comentário:

  1. Caro Wilson, concordo contigo mas vc se esqueceu de mencionar o nome do grande catalizador do movimento, o Governador Geraldo Alkimin, quando autorizou e parabenizou a Tropa de Choque para bater nos manifestantes. Sem esta atitude, creio, o movimento não teria tanta força de expansão pelo
    Brasil.

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